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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Crônica - Macetando o apocalipse

 

Macetar, que eu conheço, significa bater com o macete, amassar, esmagar. Macetamos o alho, o milho, os grãos de pimenta, ou coisas do tipo. Sem qualquer outra conotação. Macetar o apocalipse, eu diria, é bater, amassar, destruir o apocalipse, reduzi-lo a pó. Mas, vamos ao caso; pescando nas barrancas do Mandu, no Bairro da Faisqueira, em Pouso Alegre, fiquei sabendo, entre um lambari e outro, que bem ali, onde eu me acocorava, um tal de Thomaz Green Morton teria recebido uma descarga elétrica certeira, bem no meio da testa, criando uma vistosa proeminência logo acima dos olhos. Ou, como se diz, um galo avermelhado e saliente, que o acompanharia para sempre.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Crônica - Viagens - 2

 

Conhecemos a Costa do Descobrimento nos anos ‘80. Foram sete viagens: quatro de ônibus, duas de carro e uma, a última, de avião, em ’98. Porto Seguro é deslumbrante: verdes mares e vastos coqueirais, sobretudo os que se avistam do alto do Arraial d’Ajuda. A preguiçosa travessia do indolente Buranhém, numa pequena balsa; o agito da noite na Passarela do Álcool. Nas areias de Trancoso, a liberdade do corpo. Mais ao lado, Santa Cruz de Cabrália disputa com PS a duvidosa honra do desembarque de Cabral; é onde desemboca o caudaloso e temido João de Tiba. E de onde se alcançava, de barco, a ilha de Santo André e os recifes, o Dentro e o de Fora.

domingo, 19 de novembro de 2023

Crônica - Mequinho

 

O xadrez entrou na minha vida no final dos anos 1960, quando ouvia falarem do Mequinho. Ele aparecia nos jornais e nas TVs. Foi capa da Revista Veja, no começo de 1973. Era notícia pelo assombro da sua carreira: aos 12 anos de idade sagrou-se campeão gaúcho; aos 13, campeão brasileiro absoluto. Aos 15, foi campeão sul-americano. Feitos extraordinários em se considerando a total e absoluta falta de apoio oficial para o enxadrismo no Brasil.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Conto - Normal

 

Normal, é o que eu gosto de ser. Não sou dado a extravagâncias, de nenhuma ordem. Quero dizer, nada de esquisitices ou de excentricidades. Prefiro as coisas comuns, triviais. Vivo dentro da normalidade. Igual todo mundo. Detesto ser diferente, por atos ou palavras, por roupas, por adornos pessoais ou, sei lá, por qualquer outro negócio. Não sou dado a fantasias, a invencionices ou a manias. Detesto balda e vareio particulares pelo simples fato de que isso atrairia as atenções alheias sobre a minha pessoa, o que para mim seria insuportável.

domingo, 1 de outubro de 2023

Crônica - Viagens

Foi em janeiro de 1984 que fiz minha primeira viagem de percurso mais longo, desde São Paulo até Porto Alegre. Dezoito horas de ônibus, um pouco mais, talvez. Em Caminhei legal pelas ruas centrais da cidade. Na região do gasômetro, no centro antigo, comia apfelstrudel, num dia; no outro dia, atravessava o Parque da Redenção, entre seus aprazíveis lagos, para alcançar a Venâncio Aires, rua de excelentes confeitarias.

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Crônica - Zé Celso, o leão da Japurá

 

No comecinho dos anos 1980, fixei residência num espaçoso e acolhedor sobrado, no Bixiga, Rua Japurá, perto do Teatro Oficina. Fixar residência é modo de dizer, pois ali não fiquei nem quatro anos completos. No fim de união desastrosa, muitas coisas se foram: foram-se os cadernos, os livros, inclusive o autografado, de poesias, do Plínio Marcos. Foram-se os discos, menos os da coleção completa do Maluco Beleza, de que não abri mão. Não deu para salvar os do Alceu Valença, da Amelinha, do Chico; apenas um ou outro Milton Nascimento e alguns clássicos. E também não deu para salvar o sobrado, claro.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Crônica - Cinzas sabáticas

 

Na quarta-feira passada o sol apareceu cedo, escancarado, em contraste com a sisudez chuvosa dos últimos dias. Era quarta-feira de cinzas. As minhas cinzas sabáticas, ao meu modo. Tomei preguiçosamente o café da manhã, um gostoso e cheiroso café preto. Um pão com manteiga na frigideira de desjejum. Li apenas as frivolidades das redes sociais, sem pressa e sem maiores atenções. Passei ao largo das notícias mais sérias. Foi um dia de nada fazer além das necessidades básicas: um almoço trivial, de rápido e simples preparo, coisas do tipo. E retomei de um só fôlego a metade final que me restava para concluir de O Talentoso Ripley.