Ouvi falar de Jimmy Hoffa,
pela primeira vez, no ano de 1979, em uma reunião da antiga Convergência
Socialista. Foi Babel quem mo descreveu como um sindicalista norte-americano
muito poderoso e carismático, personalista e autoritário, que teria sido assassinado
alguns anos antes. Seu corpo nunca foi encontrado e nem se soube quem o matou.
Hoffa exercia domínio pleno e absoluto sobre tudo que envolvesse os transportes
rodoviários do seu país, assim como sobre tudo o que, de algum modo, pudesse
interferir nas relações entre sindicato e caminhoneiros.
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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
domingo, 10 de novembro de 2019
Crônica - Memórias quase apagando
Foi em 1983, talvez, que presenciei uma cena marcante, cujos fragmentos
ficaram indeléveis na minha memória: Orígenes Lessa e Carlos Drummond de
Andrade estavam conversando, em pé, na porta de entrada do Ginásio Virgílio
Capoani, na minha natal Lençóis Paulista. Foi numa manhã de domingo, durante
uma feira de livros. Minha memória já não me ajuda em quase nada, mas essa
imagem dos dois gigantes não se apagará nunca, eu espero.
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Crônica - Marias e Clarices
O Dr. João Gomes Martins, aos 69 anos, chegava por volta do meio dia.
Chegava sem emitir um único som, como se pisasse em nuvens, tão macios eram
seus passos. Passava altivo pelo corredor e se dirigia ao seu gabinete,
acompanhado do motorista, dublê de segurança. Dali só saia no fim da tarde, com
o mesmo silêncio da chegada.
terça-feira, 8 de outubro de 2019
Crônica - Torre de Vidro
Meu primeiro local de trabalho em São Paulo foi no prédio da Companhia
Comercial de Vidros do Brasil, em fins de abril de 1978; uma construção linda,
com fachada de vidro verde, na esquina da Rua Antonio de Godoy com a Avenida
Rio Branco, no centro de São Paulo. Eram 24 andares de brilho e de imponência
naquele foi um dos mais modernos prédios da capital paulista no seu efêmero
apogeu. Era a Torre de Vidro.
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
Crônica - Parto secreto
Nasci em domicílio, está
lá na minha certidão de nascimento. Nasci em casa, pelas mãos de uma parteira,
que era assim que se nascia no meu tempo. Foi por volta das nove horas da manhã.
Eu sempre soube do meu nascimento em domicílio porque é assim que está no
registro civil; porém, nunca ouvi maiores detalhes sobre a minha vinda ao mundo.
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
Crônica - Tanta gente que partiu
Depois de 16 anos de exílio, Paulo Freire retornou ao Brasil em 1980; o
primeiro discurso que fez em solo brasileiro foi no TUCA – Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tive a inesperada honra de me fazer
presente naquela noite. Apinhado de gente, o teatro, mesmo em sua imensidão,
não deu conta de acomodar os que foram homenageá-lo. Centenas ficaram do lado
de fora.
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
Crônica - De camarões e de apocalipse
Joseph Conrad, de origem polonesa e radicado na Inglaterra, escreveu uma
razoável quantidade de bons livros, em sua maioria ambientados no mar, como Lord Jim, A linha de sombra e Tufão. Livros que evocam a vida dos marinheiros, nos
navios fantasmas que enfrentam os mistérios dos mares revoltos.
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Crônica - Os anos que não terminaram
Em dezembro de 1968 o
astronauta Willian Anders fotografou a terra a partir da Apolo 8, no exato
momento em que orbitava a lua. A imagem, bonita e de um ângulo até então
inédito, correu o mundo. No Brasil, ilustrou a capa da Revista Manchete e assim chegou até Caetano Veloso, que se encontrava preso num quartel do
exército no Realengo, Rio de Janeiro. Inspirado nessa foto, o músico baiano
viria a criar lindos versos: “Quando eu me encontrava preso / na cela de uma cadeia
/ foi que vi pela primeira vez / as tais fotografias / em que apareces inteira
/ Porém lá não estavas nua / e sim coberta de nuvens”. Terra, terra, terra!
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Crônica - Confusões bovinas
Cada época tem as suas próprias expressões populares, palavras da moda. Aparecem
não se sabe de onde, ficam por um tempo. Algumas são engraçadas, outras nem
tanto, mas pegam pelo inusitado e pela aparente insensatez, falta de sentido.
São usadas e consagradas; depois somem do linguajar como se nunca tivessem
existido, não se ouve mais falar delas.
quarta-feira, 10 de julho de 2019
Crônica - Coisas de gênio
Era ágil e sagaz; corria muito. Dava velocidade ao jogo, mas também
cadenciava a partida quando necessário. O olhar sempre atento varria os quatro
cantos do campo; a visão periférica era aguçada. Via as jogadas frações de
segundos antes dos outros. Com grande
impulsão, subia mais do que os zagueiros. Parava no ar, soberano, esperando a bola; de
olhos abertos, cabeceava firme, via a rede balançando e só depois descia placidamente para o
gramado.
terça-feira, 18 de junho de 2019
Crônica - Como de costume
Fiz grandes amigos, inesquecíveis amigos. Fraternais amigos. Um deles, o
Zé Roberto, que se despediu desse mundo ao som de My Way, na magistral interpretação de Frank Sinatra. Uma das minhas
músicas preferidas, entre as melhores de todos os tempos, sobretudo na voz de
Sinatra – nem mesmo a emocionada gravação de Elvis Presley é capaz de superá-la.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
Crônica - Padres, freis e freiras
Miguel Hidalgo y Costilla
era acadêmico, estudioso do iluminismo e defensor dos pobres e
explorados. Ordenou-se padre da igreja católica e participou ativamente da
guerra travada contra os colonizadores espanhóis. Liderou grande parte do
exército mexicano na luta pela Independência do seu povo.
quarta-feira, 8 de maio de 2019
Crônica - Canto de liberdade
Canto Lunar é uma linda canção, com inspirada
letra de Denise Emmer, poetisa carioca. Cantada magistralmente pelo Grupo
Tarancón, é melhor ainda. Fala da lua. Oh! Lua, que navega serena; que corre
apaixonada. Lua que é das princesas; que é dos carroceiros, que é dos catadores.
E também dos prisioneiros. Lua que é da cidade, que é da humanidade, que é de quem quiser.
segunda-feira, 29 de abril de 2019
Conto - Reconhecimento
Esperava paciente há umas duas horas, aproximadamente. Na sala branca,
acarpetada, eu e mais alguns poucos, todos homens de meia idade, agasalhados,
ocupávamos os já gastos sofás de couro,
outrora mobiliário fino. Sons de máquina de escrever, vindos de muito longe,
era apenas o que se ouvia.
sábado, 13 de abril de 2019
Crônica - Céu de estrelas
Jack Dempsey, norte-americano, caiu com um potente soco que levou no
queixo. Quem conta é Martín Kohan, em Segundos
fora, da Companhia das Letras: caiu em câmera lenta, com o corpo projetado
para trás. Seus olhos foram se fechando durante a longa e demorada queda, mas
ainda teve tempo de ver que caia por entre as cordas do ringue: estatelou-se no
chão duro e frio do ginásio Polo Grounds, de Nova Iorque, na remota noite de 14
de setembro de 1923.
domingo, 24 de março de 2019
Crônica - O céu do apátrida
O magistral e excêntrico Wilhelm Steinitz não era do meu tempo: só o conheço pelas histórias que ouço e leio. Nasceu em 1836, em Praga, ainda sob a bandeira do Império Austro-húngaro, e se interessou pelo xadrez apenas aos 23 anos de idade – caso raro em meio à precocidade dos grandes campeões. Steinitz foi oficialmente reconhecido como o primeiro campeão mundial de xadrez quando, no ano de 1886, derrotou o polonês Johannes Zukertot no jogo final de um grande torneio que reuniu os melhores enxadristas então conhecidos.
sexta-feira, 8 de março de 2019
Crônica - O céu da pátria
Um cidadão sem grandes ambições mudou a história
mundial ao disparar um tiro certeiro contra o então sucessor do Império
Austro-húngaro: o sérvio Gavrilo Princip matava, em junho de 1914, na cidade de
Sarajevo, capital da atual Bósnia e Herzegovina, o arquiduque Francisco
Ferdinando. Foi o primeiro disparo, aquele que iniciou a Primeira Grande Guerra
Mundial.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
Crônica - Capri, c'est fini
Dois trágicos acontecimentos marcaram
São Paulo no início dos anos 1970: o incêndio do Edifício Andraus, em 1972, com
16 mortos e mais de 400 feridos, e o incêndio do Edifício Joelma, em 1974, com
179 mortos e cerca de 300 feridos. Acompanhei os dois eventos pela televisão,
pelos jornais e pelas revistas da época. Cenas marcantes, que chocaram pela
crueldade das mortes.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Crônica - Chucrute argentino
O chucrute é um dos meus pratos preferidos. Simples e
fácil de ser feito; só requer paciência: com pressa, não chega ao ponto
adequado. Gosto do repolho reduzido na panela, em fogo brando, sem a
fermentação natural. Acompanhado de joelho de porco e de salsichas, o tempero é
completado no prato, com mostarda, amarela ou escura. Simplesmente saboroso.
terça-feira, 8 de janeiro de 2019
Crônica - Céu de Lençóis
Meu pai foi preso na hora
do almoço, quando eu tinha nove ou dez anos. Dois policiais, fardados e
armados, chegaram de surpresa na porta da cozinha, onde almoçávamos. Passaram
pelo portão de madeira, caminho que ficava aberto para a carroça. Entraram
quintal adentro, deram voz de prisão. De surpresa. Na ponta da mesa, quase que literalmente.
Naquele dia sobrou almoço.
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