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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Crônica - Macetando o apocalipse

 

Macetar, que eu conheço, significa bater com o macete, amassar, esmagar. Macetamos o alho, o milho, os grãos de pimenta, ou coisas do tipo. Sem qualquer outra conotação. Macetar o apocalipse, eu diria, é bater, amassar, destruir o apocalipse, reduzi-lo a pó. Mas, vamos ao caso; pescando nas barrancas do Mandu, no Bairro da Faisqueira, em Pouso Alegre, fiquei sabendo, entre um lambari e outro, que bem ali, onde eu me acocorava, um tal de Thomaz Green Morton teria recebido uma descarga elétrica certeira, bem no meio da testa, criando uma vistosa proeminência logo acima dos olhos. Ou, como se diz, um galo avermelhado e saliente, que o acompanharia para sempre.

Até que se macete o apocalipse, convenhamos, vai uma longa história. Nascido no Rio de Janeiro, em Valença ou em Conservatória, conforme um ou outro biógrafo, Thomas mudou-se, ainda criança, para o Sul de Minas. Inicialmente, foi morar em Três Corações, onde, na mocidade, exibiu seus dotes de mágico e ilusionista pelas ruas da cidade. Depois, foi para Pouso Alegre, onde, na Faisqueira, teria recebido o tal do raio, que lhe conferiu um terceiro olho, por onde, diz ele, passaram a entrar luzes, imagens, mensagens e uma série infindável de poderes vindos do além. Daí a entortar garfos, colheres, moedas e outros metais, curar certas doenças, enfim, foi um passo bem engendrado.

Incorporou uma aura mística, exercendo poderes paranormais e extrassensoriais. Tornou-se uma figura emblemática e angariou, nos anos 1980, uma clientela formada majoritariamente por grandes nomes da MPB, incluindo Pepeu Gomes, Rita Lee, Roberto de Carvalho, Gal Costa, Elba Ramalho, Gabriel Pensador, Tom Jobim (quem diria? Até o Maestro Soberano!). E claro, Baby Consuelo sua maior divulgadora. Todos frequentavam assiduamente Pouso Alegre.

Dina Sfat, desenganada pelos médicos em vista do câncer que lhe retirava a vida, pagou caro por uma sessão de cura com o dito cujo, pouco antes de fenecer – episódio que ela mesma contava, arrependida, em seus últimos dias. Thomaz tinha um grito de guerra, que alegava ser infalível: Rá!!! gritava ele, diante do seu público boquiaberto. E então fazia escorrer perfumes dos seus dedos, enquanto que do seu corpo emanavam luzes cósmicas. Fazia mentalizações positivas nas sessões de energização corporal que eram regiamente pagas em dólares. Recebia os clientes em sua chácara, nos arredores de PA, a caminho de Santa Rita do Sapucaí.

Baby Consuelo foi quem mais se impressionou com Thomaz; incorporou definitivamente seus “preceitos religiosos e filosóficos”. Divulgou o paranormal aos quatro ventos, e com tal intensidade que até hoje, mesmo depois de desmascarado o guru, ainda reverbera, tal como fez perante Ivete Sangalo, determinados conhecimentos obtidos no sul de Minas. A cantora, agora Baby do Brasil, conta com o apoio de gente como a ex-primeira dama. Frequenta carnavais – e quando apanhada de surpresa na festa pagã, trata de pregar a chegada do apocalipse para breve. Decididamente, virou o fio, de modo irreversível, como tantos outros.

Mas a Ivete garantiu, em alto e bom som: Que venha o apocalipse, Baby! A gente maceta ele!

Mil vivas para a Ivete! Estamos juntos, caríssima.

4 comentários:

  1. Oi professor Ezio, muito engraçado essa situação.
    O texto ficou bastante divertido também, apreciei muito a parte Thomas Green.

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    1. Obrigado, Samuel, pela visita. De fato, tem o seu lado engraçado e, convenhamos, o seu lado trágico, conforme o ângulo que se vê a questão. Grande abraço, meu querido amigo.

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  2. Gostei demais! Magníico caminho percorreu até esse desfecho que aplaudo. Abraço.

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  3. Excelente e bastante atual, parabéns!

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