Macetar, que eu conheço, significa bater com o macete, amassar, esmagar. Macetamos o alho, o milho, os grãos de pimenta, ou coisas do tipo. Sem qualquer outra conotação. Macetar o apocalipse, eu diria, é bater, amassar, destruir o apocalipse, reduzi-lo a pó. Mas, vamos ao caso; pescando nas barrancas do Mandu, no Bairro da Faisqueira, em Pouso Alegre, fiquei sabendo, entre um lambari e outro, que bem ali, onde eu me acocorava, um tal de Thomaz Green Morton teria recebido uma descarga elétrica certeira, bem no meio da testa, criando uma vistosa proeminência logo acima dos olhos. Ou, como se diz, um galo avermelhado e saliente, que o acompanharia para sempre.
Até que se macete o apocalipse, convenhamos,
vai uma longa história. Nascido no Rio de Janeiro, em Valença ou em Conservatória,
conforme um ou outro biógrafo, Thomas mudou-se, ainda criança, para o Sul de
Minas. Inicialmente, foi morar em Três Corações, onde, na mocidade, exibiu seus
dotes de mágico e ilusionista pelas ruas da cidade. Depois, foi para Pouso
Alegre, onde, na Faisqueira, teria recebido o tal do raio, que lhe conferiu um
terceiro olho, por onde, diz ele, passaram a entrar luzes, imagens, mensagens e
uma série infindável de poderes vindos do além. Daí a entortar garfos,
colheres, moedas e outros metais, curar certas doenças, enfim, foi um passo bem
engendrado.
Incorporou uma aura mística, exercendo
poderes paranormais e extrassensoriais. Tornou-se uma figura emblemática e
angariou, nos anos 1980, uma clientela formada majoritariamente por grandes
nomes da MPB, incluindo Pepeu Gomes, Rita Lee, Roberto de Carvalho, Gal Costa,
Elba Ramalho, Gabriel Pensador, Tom Jobim (quem diria? Até o Maestro Soberano!).
E claro, Baby Consuelo sua maior divulgadora. Todos frequentavam assiduamente Pouso
Alegre.
Dina Sfat, desenganada pelos médicos
em vista do câncer que lhe retirava a vida, pagou caro por uma sessão de cura
com o dito cujo, pouco antes de fenecer – episódio que ela mesma contava,
arrependida, em seus últimos dias. Thomaz tinha um grito de guerra, que alegava
ser infalível: Rá!!! gritava ele, diante do seu público boquiaberto. E então fazia
escorrer perfumes dos seus dedos, enquanto que do seu corpo emanavam luzes
cósmicas. Fazia mentalizações positivas nas sessões de energização corporal que
eram regiamente pagas em dólares. Recebia os clientes em sua chácara, nos arredores
de PA, a caminho de Santa Rita do Sapucaí.
Baby Consuelo foi quem mais se
impressionou com Thomaz; incorporou definitivamente seus “preceitos religiosos
e filosóficos”. Divulgou o paranormal aos quatro ventos, e com tal intensidade
que até hoje, mesmo depois de desmascarado o guru, ainda reverbera, tal como
fez perante Ivete Sangalo, determinados conhecimentos obtidos no sul de Minas. A
cantora, agora Baby do Brasil, conta com o apoio de gente como a ex-primeira
dama. Frequenta carnavais – e quando apanhada de surpresa na festa pagã, trata
de pregar a chegada do apocalipse para breve. Decididamente, virou o fio, de
modo irreversível, como tantos outros.
Mas a Ivete garantiu, em alto e bom
som: Que venha o apocalipse, Baby! A gente maceta ele!
Mil vivas para a Ivete! Estamos juntos,
caríssima.
Oi professor Ezio, muito engraçado essa situação.
ResponderExcluirO texto ficou bastante divertido também, apreciei muito a parte Thomas Green.
Obrigado, Samuel, pela visita. De fato, tem o seu lado engraçado e, convenhamos, o seu lado trágico, conforme o ângulo que se vê a questão. Grande abraço, meu querido amigo.
ExcluirGostei demais! Magníico caminho percorreu até esse desfecho que aplaudo. Abraço.
ResponderExcluirExcelente e bastante atual, parabéns!
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