Postagem em destaque

Sobre o Blog

Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 26 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Epílogo. Os finalmentes dessa história


Os finalmentes dessa história

O capataz foi transferido para a estância, onde respondeu processo pelo crime do casarão. Foi condenado e cumpriu uma longa pena de prisão.
Vez ou outra eu o visitei na cadeia; naquelas ocasiões eu percebia que ele não dava mostras de arrependimento; contudo, estava sempre triste, falava pouco e tinha o rosto vincado pela decepção. Talvez não pela prisão, mas pelas amarguras que acabou experimentando na vida. Deve ser isso, imagino.

sábado, 25 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 18. Detalhes do crime

Detalhes do crime

Quando o patrão lhe dava instruções de como simular o arrombamento da porta, o capataz, em gestos ágeis, desferiu as três facadas. A vítima ainda tentou enfrentá-lo, debatendo-se, mas a surpresa foi fator preponderante para o sucesso da empreitada; o Coronel não pode resistir aos golpes, que foram fatais.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 17. Confissões à beira do Rio Vermelho


Confissões à beira do Rio Vermelho

Tenho um gosto particular pelas cidades histórias brasileiras. Serro Frio, Diamantina, Tiradentes, enfim, de todas guardo excelentes lembranças. E o que dizer da aprazível e ensolarada Goyás Velho? Terra de antigas minerações, explorada depois que os diamantes se esgotaram nas minas gerais, é cercada por uma belíssima serra; ao entardecer, o sol lhe deita uma cor dourada, brilhante, encantadora.
Guardo boas recordações da cidade, com as construções seculares ainda bem preservadas pelo Patrimônio Histórico; ruas, largas, e cobertas com enormes pedras brutas e irregulares, que fazem o sofrimento dos caminhantes inexperientes.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 16. O golpe das esmeraldas em Goiás


O golpe das esmeraldas em Goiás

No começo do ano de 1977, uma notícia caiu como uma verdadeira bomba na cidade: nossos dois jornais repetiram a mesmíssima manchete, em edição extraordinária:

CAPATAZ É PRESO EM GOYÁS VELHO
Saiba tudo sobre o golpe das esmeraldas

O texto, também idêntico nos dois jornais, dizia:

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 15. O júri absolve o caseiro


O júri absolve o caseiro

O caso esfriou com o passar do tempo. Guilherme esteve no norte da Europa, em 1972, a passeio. Desgostoso com os seus fazeres, aproveitou uns meses acumulados de licença-prêmio e as economias de uma vida toda para empreender a viagem.
Realizou o sonho que acalentava desde a juventude: conhecer uma capital europeia, de noites brancas, em que o sol praticamente não se põe. Mesmo como turista, não deixou de usar seus dotes profissionais para se imiscuir, mesmo sem ser convidado oficialmente, numa sigilosa investigação internacional que envolvia gente graúda do mundo enxadrístico, na cidade de Reikjavík. Nunca me deu maiores detalhes do papel que desempenhou naquela ocasião; o que sei é um norte-americano, desafiante do título mundial de xadrez, esteve sob ameaça de agentes da polícia secreta da União Soviética. Assustado, o enxadrista norte-americano desapareceu misteriosamente da capital islandesa, colocando em risco a realização do match mais esperado de todos os tempos. Ao que parece, os soviéticos não aceitariam de bom grado a entrega do cetro, que detinham por cinquenta anos, aos americanos.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 14. A camareira aparece de barriga

A camareira aparece de barriga

O Dr. Alberto Dias fez conforme prometido e ordenou a prisão do caseiro. Pego de surpresa quando estava chegando da fazenda, na noite de domingo, ele esboçou apenas uma frágil reação, insuficiente para evitar que fosse conduzido para a cadeia.
O juiz criminal, a quem coube a análise do pedido de prisão, expediu o mandado no final da tarde de segunda-feira, já sabendo que o caseiro já estava recolhido desde a noite anterior. Ao que consta, assim procedeu graças à promessa que o delegado lhe fez de encerrar imediatamente o inquérito, justificando a medida tomada.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 13. A prisão do caseiro

A repentina prisão do caseiro

No domingo seguinte ao do assassinato, passada a missa de sétimo dia rezada em intenção da alma do Coronel, o seu filho estava fazendo uma faxina no quarto do pai quando se deparou uma camisa xadrez, verde e amarela, totalmente manchada de sangue.
A inesperada aparição desta peça, que poderia mudar os rumos da investigação, levou a um desfecho mais inesperado ainda: a abrupta prisão do caseiro.
Almoçávamos em minha casa quando minha mulher, ouvindo batidas na porta da frente, recebeu um dos meninos de recado, o Bruninho. Tal como de costume, o pequeno mensageiro ia disparando um discurso dirigido ao Guilherme:
- Tenho a subida honra, meu dileto mestre Guilherme, arguto investigador, único nestas inebriantes paragens que, com seus olhos atentos e faro de perdigueiro, a tudo elucida com perspicácia...

domingo, 19 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 12. Fantasmas rondam a cidade


Fantasmas rondam a cidade

Na quarta-feira, Dr. Alberto Dias cobrava uma solução para o caso; dizia que tinha que prestar contas ao Governador:
- O assessor dele já me ligou duas vezes. Ele quer a prisão do assassino o mais breve possível; e eu já nem sei mais o que responder. Temos pressa nisso.
Contamos tudo o que sabíamos; ele que aguardasse, então, outras novidades.
Mas a autoridade não dava ouvidos ao Guilherme; falava, inclusive, que já tinha elementos suficientes para fechar o relatório; contrariado com os veementes protestos do meu amigo, o delegado ficou de cara fechada.

sábado, 18 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 11. O romance entre a camareira e o capataz


O romance entre a camareira e o capataz

Na terça, a frustração já prevista de véspera foi confirmada: o depoimento da camareira, tomado no casarão em virtude de sua saúde visivelmente precária, nada acrescentou. Ela foi ouvida de manhã, bem cedo; de olheiras profundas e tez pálida, confirmou o que ouvíramos na Estação da Mogyana: o capataz viajou praticamente com a roupa do corpo, a não ser uma camisa e roupas de baixo para uma ou duas trocas, nada mais que isso.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 10. No Morro do Vai e Volta, de novo

No morro do Vai e Volta, de novo

No começo da tarde de segunda-feira, antes dos depoimentos, Guilherme e eu trocamos algumas ideias sobre o caso. Refletimos sobre alguns fatos, que exigiam respostas: o assassinato foi cometido pela mesma pessoa que roubou as esmeraldas? Além do filho do Coronel, será que alguém mais da casa sabia dessas gemas? Onde estaria a faca usada no crime?

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 9. Checando álibis

Checando álibis

A segunda-feira de manhã foi tirada para a confirmação dos álibis e das informações obtidas no dia anterior; a chuva ainda continuava a cair, embora mais fina; não tínhamos como dispensar botas e guarda-chuvas. A neblina amanheceu cerrada, o vento constante e muito gelado obrigava o uso de blusas grossas. Normalmente essas intempéries permanecem durante muitos dias seguidos, são características das Águas Virtuosas.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 8. Ouvindo o filho do Coronel


Ouvindo o filho do Coronel

Duas descobertas eram dignas de nota: primeiro, as idas e vindas do capataz, incluindo uma viagem aparentemente fora das rotinas; depois, a inusitada e absolutamente desnecessária evacuação da casa, sob o comando do caseiro. E duas questões consumiriam nossas energias dali por diante em primeiro lugar, de quem veio a ordem para que todos saíssem da casa? E qual o motivo para a mudança nas rotinas do capataz?

domingo, 12 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 7. Algumas revelações intrigantes

Algumas revelações intrigantes

A cozinheira, mulher obesa e espadaúda, de altura mediana, tinha no frango ao molho pardo o carro chefe dos variados pratos que preparava com inigualável habilidade; ela mesma matava a ave, colhia o sangue e depois dava um toque final com o coentro fresco e viçoso que cultivava nos fundos do quintal. O arroz branco e soltinho era um acompanhamento perfeito, para alegria da mesa. Lá estava ela, preocupada com a comida que borbulhava no fogão a lenha, sem dizer palavra, embora visivelmente emocionada.

sábado, 11 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 6. Na cena do crime


Na cena do crime

Foi com apreensão e insegurança que o delegado foi logo dizendo:
- A morte me foi anunciada pelas onze horas, por telefone: um empregado, o caseiro, encontrou o patrão caído ao pé da cama, mas quem me telefonou foi o filho, Assis Júnior. Antes de vir para cá, mandei-lhe o bilhete. O sangue escorrido no peito e ainda não de todo seco pode ser visto lá na parte de cima do sobrado, onde o corpo está. Tem um relógio despertador caído no chão, quebrado. Vamos lá?

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 5. No casarão do Conde Prates

No casarão do Conde Prates

O casarão foi construído, no final do Império, pelo Conde Prates, conhecido capitalista que fez fortuna como banqueiro e investiu bom dinheiro nas ferrovias brasileiras; muito usufruiu do casarão durante os costumeiros passeios que fazia pelas Águas Virtuosas. Mais tarde, o imóvel foi adquirido pelos pais do Coronel Assis, já então prósperos fazendeiros.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 4. A austeridade de um Coronel de boa vida

A austeridade de um Coronel de boa vida

O Coronel Assis, posto que pessoa de hábitos reservados no seu dia a dia, não deixava passar oportunidades para gozar os sabores da vida mundana, tomando algumas cautelas para não ser pego em seus deslizes. Procurava ao menos manter as aparências perante a sociedade; seus filhos, de outro lado, sabiam de seus passos incertos, embora nada comentassem sobre isso. Foi por essa razão estratégica que o Coronel escolheu o casarão para fixar residência. O mesmo casarão, hoje quase desmoronando, que foi do Conde Prates, com seus aproximados trinta cômodos mal contados, alguns sem luz externa, distribuídos em dois andares de construção sólida pintada de amarelo.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 3. A simplicidade de um investigador

A simplicidade de um investigador

O meu amigo Guilherme Holders, eu tenho que dizer, era sempre, dentre os investigadores da polícia local, o primeiro a ser lembrado em ocasiões mais graves; meticuloso no trato dos casos mais difíceis na Polícia Civil, raramente deixava algo pendente de solução – antes, pelo contrário, angariou fama entre os seus pares por colocar atrás das grades até os mesmo os mais hábeis criminosos, homicidas ou simples punguistas, aqueles que, por planejarem friamente seus atos, poucos rastros deixam para trás.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado. Capítulo 2. No Morro do Vai e Volta

No Morro do Vai e Volta

Morro do Vai e Volta, Estrada do Vai e Volta, Córrego do Vai e Volta. Ninguém sabe dizer com exatidão sobre a origem do nome, mas é isso mesmo: o morro em que se encrava a minha casa chama-se Morro do Vai e Volta, justamente ao fim da estrada que tem esse mesmo nome. Beirando o córrego do mesmo nome.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Livro - Reverso inclinado, Capítulo 1. Águas Virtuosas


REVERSO INCLINADO


Dedicação
A Bernadete Pereira de Almeida, companheira de uma longa e feliz caminhada; a meu filho Raul Pereira Frezza, lindo presente que Bernadete me deu; a minha mãe, Olga Basso Frezza, cujo sorriso sempre me alegra.
Aos pesquisadores Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, Luiz Roberto Judice, Rubens Caruso Júnior e Jurandir Ferreira, dentre tantos outros que preservam e divulgam nossa história.