Postagem em destaque

Sobre o Blog

Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Poesia - Soneto cheiroso

 

Li, no Facebook, um poema atribuído à Rob Goodwin. É sobre um bichinho deveras maltratado, vítima constante de uma canina perseguição – o nosso velho conhecido gambá. Típico da área rural, ele tem hábitos noturnos e é de todo inofensivo: não ataca as pessoas, não transmite doença alguma, não atira jato de urina e nem exala cheiro ruim, seja em que situação for; aliás, é tão cioso da sua higiene quanto o são os gatos. Mas carrega, infelizmente, uma injustificável má-fama, a ponto de ser perseguido até a morte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Poesia - Soneto para um chapéu

 

És de pano escalavrado, oh! meu chapéu,

presente que recebi de um lavrador.

Posto que farrapos, segues protetor:

no passo do tempo és meu sobrecéu.

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Crônica - Monteiro Lobato e o ET de Varginha

 

Diversas pessoas juram que viram, com os olhos que a terra haverá de comer, um ET, nas proximidades de um muro, ao lado dos trilhos da estrada de ferro que corta Varginha, no sul de Minas. Teria sido num anoitecer de janeiro de 1996, apenas alguns meses antes do acaso me levar a residir naquela bucólica cidade.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Poesia - O Corvo

 

Edgar Alan Poe é um dos meus preferidos, dentre tantos que admiro nas letras. Um contista perfeito: O Barril de Amontilado, por exemplo, é uma verdadeira obra prima, que não me canso de reler. É dele também O Corvo, poesia enigmática e dolorida; conta-se para além de 50 versões para a língua portuguesa, com as mais variadas leituras, releituras, adaptações e estudos, inclusive na versão concretista, dos irmãos Campos.  Há, também, uma versão musical muito curiosa e interessante, feita por uma dupla sertaneja dos anos 1970, Conde e Drácula, que vale a pena ser ouvida.

sábado, 25 de setembro de 2021

Crônica - Um livreiro Cortez

 

Me recordo do entusiasmo com que frequentei a PUC São Paulo, entre 1979 e 1985. Foram sete anos de militância política clandestina, na Convergência Socialista, de política estudantil e de boas noitadas. Jamais cheguei sequer perto do que se chama de “aluno brilhante”; porém, nunca carreguei dp e nem tive reprovação na faculdade: é que tanta agitação e curtição não poderiam caber, claro, em apenas cinco anos!

domingo, 12 de setembro de 2021

Poesia - Versos bárbaros

 

Nasci pelas mãos da parteira por não ser delfim,

embalado no papelão para não passar frio,

dormi no colchão de palha de milho (que macio!).

Colhi merda de burro pra botarem no jardim.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Crônica - O Assassinato de um povo

 

O Haiti é um país de belezas naturais tão exuberantes que os franceses a chamavam de A Pérola do Caribe. A região em que se insere foi conquistada por Cristóvão Colombo em 1492 – e bastaram poucas décadas para que os espanhóis dizimassem quase toda a sua população nativa.

sábado, 12 de junho de 2021

Quase-soneto sem nome

 

Absorto, imerso nas lides recorrentes,

não me dei conta do horror que sobrevinha.

Sem nem olhar pra trás, um gelo na espinha,

corri sem ver as despedidas pendentes.

domingo, 23 de maio de 2021

Electric Mifeng - Parte final

 

Na manhã seguinte, os chips estavam carregados e as abelhas, prontas para a decolagem, estavam alinhadas sobre uma placa-mãe-plástica. Ligado o sistema, deu-se a suprema e emocionante primeira revoada, para deleite de Jards. Voaram as explorfengs, em cautelosas panorâmicas e em altitudes alternadas, ora rente ao chão, ora um pouco mais alto, ultrapassando, inclusive, os muros da vizinhança. Jards mal conseguiu conter a emoção, embora conhecesse exatamente todas as etapas da enxameação. No terceiro dia de exploração, já estavam instaladas numa caixa de acrílico fosco, num canto do quintal, que emitia ondas magnéticas de curto alcance de uma atrativa fragrância floral rústica.

domingo, 16 de maio de 2021

Electric Mifeng - Parte I

 

Jards acordou em sobressalto, numa manhã de Outubro de 2057. Achava que tinha perdido a hora. Apressado, pulou da cama, abriu a janela e recebeu a luz ofuscante do sol diretamente na cara; a grande bola vermelha recém-saída do horizonte mostrava que ainda era cedo. Ufa! Que bom, pensou ele!  Era apenas uma questão de controlar a ansiedade. Havia, ao menos, a promessa de um dia quente e propício para a montagem das abelhas elétricas que receberia naquela manhã. Com alguns esforços e sem perder tempo com coisas paralelas, talvez conseguisse montar todas até o final da tarde.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Crônica - Luciano navega em ondas

 

Luciano nasceu em Porto Seguro e ainda jovem se aventurou para as bandas do Sul de Minas, onde veio fazer o Curso de Direito; veio em uma das mais recentes ondas de baianos que por aqui deixam saudades. Tantos vieram ao longo das últimas décadas: Alícia, Heraldo, Rominho, Marcelo, Olodum, enfim, garotos e garotas que alegram o campus, que marcam épocas entre nós e depois vão embora.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Crônica - Crônica condensada

 

Quando criança, eu tinha amizade com dois vizinhos; eram dois irmãos, Laércio e Wilson, com os quais passava as tardes brincando pelas ruas da Vila Mamedina. Ambos me faziam uma inveja danada, periodicamente:- a mãe deles, Dona Teresa, na compra mensal de mantimentos, dava uma lata de leite condensado para cada um. Eles faziam um furo na latinha e saiam para a rua. Passavam a tarde toda exibindo o troféu para os que, como eu, não se davam ao luxo nem sequer de experimentar tal iguaria. Degustar uma lata inteirinha, sozinho? Nem em sonho!

sábado, 9 de janeiro de 2021

Crônica - Memórias

 

Dele herdei o nome, os olhos claros e o gosto pela leitura. Fui seu ajudante durante dois anos, sobre a carroça que atravessava diariamente a cidade entregando lenha. Ainda não se falava em fogão a gás. E fazendo carretos diversos: pesados rolos de sola, do curtume para a Estação Sorocabana; compras mensais de mantimentos, da Sorocabana para a casa dos ferroviários, além de uma série de outras tarefas, sob sol ou chuva.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Crônica - Tugidos e mugidos

 

Os primeiros mugidos de gado eu ouvi quando menino, no Sítio do João Paccola, onde ia, todas as manhãs, buscar um litro de leite. Mugidos que me davam medo, me aterrorizavam: saia correndo, rapidamente. Não ficava para ver o boi, bastavam os mugidos. O gado tinha imponência e dignidade. Botava respeito, era reconhecido.