Perdoem-me por voltar ao tema: Nemecseck é um personagem marcante; está
entre os meus preferidos, dentre os memoráveis personagens da literatura
mundial. Menino pobre e franzino, morava
na Rua Paulo, num bairro da periferia de Budapeste. Pertencia à Sociedade do
Betume, composta por um grupo de crianças que defendia, no braço, o seu espaço
perante os rivais. Ferenc Molnár imortalizou as históricas que poderiam ser
vividas por qualquer menino, em qualquer lugar do mundo. Um livro que fica na
memória, na tradução de Paulo Rónai e prefácio de Sérgio Buarque de Holanda.
Guardo com muito gosto; leio e releio uma edição de folhas soltas e já
desgastadas pelo tempo.
Cenas de amizade e de companheirismo, de bravura; uma obra que virou best-seller mundial. Budapeste veio de
ser lembrada, não faz muito tempo, por Chico Buarque. Nosso melhor letrista nela
ambienta a história de um escritor, ghost-writer,
que vive entre duas línguas distintas, entre duas mulheres, entre duas cidades,
Rio de Janeiro e Budapeste. Buda e Peste, que antes eram duas cidades distintas
e separadas pelo Rio Danúbio, que Strauss II disse que é azul.
Não sei o que Nemecseck jantava nas noites de inverno, quando jantava. Invernos
rigorosos, dizem, que castigam duramente os húngaros. Tempos atrás, aprendi a
fazer um prato delicioso, o goulash, um
tradicional guisado húngaro, com carne, páprica e legumes. Excelente para as
noites frias. Simples de fazer e barato, mas que requer paciência e um tempo
razoável para o cozimento adequado da carne.
Corto músculo, ou ponta de peito em pequenos cubos, sem a gordura. Um
quilo, mais ou menos; consideradas carnes de segunda, são as mais saborosas para
o goulash. Pico uma cebola e quatro
tomates em pedaços minúsculos, quase liquefeitos. Numa panela de pressão, douro
a cebola e acrescento, aos poucos, os cubos de carne, levemente salgados. Após
a selagem, acrescento uma colher, das de sopa, de farinha de trigo, mexendo bem.
O tomate vem logo na sequência, interagindo com os ingredientes
anteriores. Depois, acrescento meio litro de água, mais ou menos, temperada com
um cubo de caldo de carne. Por último, uma colher, das de sopa, rasa, de
páprica picante e uma outra, cheia, de páprica doce.
A partir daí é necessário tampar a panela e esperar, com paciência, o
cozimento da carne. Um cuidado especial: é uma mistura que gruda fácil no fundo
da panela; vale a pena conferir de vez em quando, ainda que isso atrase o cozimento.
Ao final, a carne ficará bem macia e quebradiça, em meio ao caldo escuro e espesso.
Com o fogo desligado e cessadas as borbulhas, é só acrescentar uma
caixinha, das pequenas, de creme de leite – complemento com que, por certo, não
contavam os húngaros de antigamente.
O resultado de tudo isso é um prato encorpado, que deixa algumas marcas
na língua, por conta da páprica. A cor é linda, lembra um mármore caramelizado;
o perfume é convidativo; o sabor, inesquecível. Com arroz branco e soltinho, combina
muito com o inverno.
Fiquei com água na boca rss. Convivia muito com alemães, quando morava em São Paulo, e amavam esse prato. Aliás, o preparavam de forma excepcional. Ezio cozinheiro!!! Isso nunca poderia imaginar rss.
ResponderExcluirHá quem diga que não é necessário guardar livros porque nunca os relemos. Isso não acontece comigo, salvo se julgar que não vale a pena. Aí, passo para a frente. Uma prazerosa leitura. Abraço.
Sim, Marilene, tomei gosto pelo fogão. E olhe que, dez vez em quando, saem algumas coisas realmente gostosas. Livros e comidas, vamos lendo e relendo, vamos comendo e comendo novamente - essas coisas não enjoam. Abraços.
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