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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 19 de novembro de 2023

Crônica - Mequinho

 

O xadrez entrou na minha vida no final dos anos 1960, quando ouvia falarem do Mequinho. Ele aparecia nos jornais e nas TVs. Foi capa da Revista Veja, no começo de 1973. Era notícia pelo assombro da sua carreira: aos 12 anos de idade sagrou-se campeão gaúcho; aos 13, campeão brasileiro absoluto. Aos 15, foi campeão sul-americano. Feitos extraordinários em se considerando a total e absoluta falta de apoio oficial para o enxadrismo no Brasil.

Mequinho foi quem me despertou para a atividade; ele e, depois, Fischer, outro gênio de igual cepa, consolidaram minha paixão pelas 64 casas. Quando criança, aos domingos, eu espiava o Wilson, meu irmão mais velho, jogando na sala de casa com o nosso primo Luisinho. Eu ficava admirando, de longe, as peças longilíneas e brilhantes que os dois só moviam depois de refletirem por longo e silencioso tempo. Me fascinava. Na mesma época, um professor, no ginásio, se propôs a ensinar a arte a quem tirasse acima de 80 na prova de matemática. Era tudo o que eu queria. O professor era um exímio enxadrista e a oportunidade era ímpar. Mas um detalhe me frustrou: sendo péssimo aluno na matéria, as notas baixas me impediram de frequentar as aulas.

Impedido de frequentar as aulas, não me resignei: eu ficava do lado de fora da Sala de Artes, onde o xadrez era ministrado e olhava pela vidraça, entre as frestas das cortinas que, desgraçadamente, ficavam fechadas. Só pude aprender alguma coisa com 17 anos de idade: o Wilson, enfim, me emprestou o seu D’Agostini, uma edição dos anos 1960 que até hoje me acompanha. Estudei de um fôlego só as suas 570 páginas.

Em 1978, Mequinho atingiu uma fantástica marca, que jamais será alcançada por um sul-americano: foi o terceiro melhor jogador do mundo, com pontuação atrás apenas de dois soviéticos, Karpov e Korchnoi. Já morando na capital paulista, a partir de 1978, me associei ao Clube de Xadrez de São Paulo, onde conheci excelentes jogadores: Rubens Filguth, Herman Claudius, colunista de xadrez do O Estado de S Paulo, seu irmão Dirk Dagoberto. Ali eu vi outra lenda, Victor Korchnoi, com seu indefectível cachimbo, se indignando, certa feita, com a calorosa e barulhenta reação do público frente a um triunfo do brasileiro Antonio Rocha, que então conquistava a norma de MI.

Henrique Mecking, se já não bastasse a consagração nos quadrados mágicos, também foi imortalizado na música Super-heróis, de Raul Seixas, nos seguintes versos: “Quem no Brasil não conhece o grande trunfo do xadrez / Saí pela tangente disfarçando uma possível estupidez / Corri para o cantinho pra dali sacar o lance de mansinho: advinha quem era? Mequinho!” Pois é! Corri para o cantinho pra dali sacar o lance de mansinho, como eu fazia nos velhos tempos.

Mequinho, enfim, nos deu o ar da graça, em visita que nos fez em 18 de novembro, véspera do Dia Mundial do Enxadrista. O GM exibiu suas infinitas qualidades em uma acirrada disputa simultânea: frente a 15 enxadristas, obteve 14 vitórias e cedeu apenas um empate.

E conversou alegremente com todos nós. Esbanjou simpatia. Um dia de festa para o xadrez de Poços e região sul-mineira. Me resta dizer: obrigado, Mequinho, por tudo o que tem nos proporcionado.




5 comentários:

  1. Parabéns pela homenagem, Ezio. Foi uma pena eu não ter podido ir. Grande abraço.

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  2. Beleza, Ezio! Não sei jogar rss, mas ele merece muitos e muitos aplausos. Abraço.

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  3. Muito interessante, merece muitos aplausos Mequinho, espero um dia me tornar um Enxadrista também.

    Hoje, estive lendo além desta, uma publicação de Agosto de 2022 no blog (muito conteúdo interessante).
    Descobri por meio do texto Cartilha - Xadrez Legal, que existe uma incrível lógica associada entre uma partida de xadrez e um processo judicial, tive varias reflexões, o texto é muito bem escrito.

    Algumas vezes, observei uma amiga chamada Brisa, ela estava jogando Xadrez junto ao professor Ezio, perguntei a alguns colegas de sala do que se tratava e informaram que é um projeto chamado Xadrez Legal, mas não consegui associar a relação entre o direito e o xadrez até o dia de hoje, logo, após ler o texto aprendi muito sobre o jogo e percebi que é algo muito diferente do que conheci, penso que muitas pessoas também não sabem disso, certamente depois da leitura, nunca mais verei o Xadrez da mesma forma, parabéns pelo projeto professor Ezio.

    PS: acredito que seja uma forma de aumentar o Q.I, dada a complexidade do jogo, um treinamento para o cérebro.

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