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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 1 de junho de 2025

Poesia - O Anjo do Destino

 

Quando ele nasceu um Anjo lhe disse:

Vai, cara, vai ser um merda na vida!

Foi desse jeito mesmo, como se dissesse por gabolice.

Foi assim, de mau agouro, que o cara entrou na vida sofrida.

 

De balde ainda perguntou: seu Anjo, eu não poderia ser gauche,

tal como o Senhor disse lá para o Carlos, o Drummond de Andrade?

Ora! Adiantou-se o Anjo: Antes fosse!

Para você, cara, só antevejo uma vida de crueldade.

 

Ah! Pois então, seu Anjo, nem assim um pouquinho doce?

Sem chances, e que se conforme: é essa a realidade.

 

Meio triste e inteiro sem jeito,

Viu que de nada adiantaria a ilusão

De sonhar uma vida de progresso

Pois que o fracasso já se anunciara de antemão.

 

Hoje o cara reconhece no seu maldito rastro 

Nada mais do que uma vida de insucesso.

Uma vida inteirinha, desde menino,

Marcada com o selo do infortúnio por ali impresso.

 

Mas, Anjo, você não poderia mudar meu destino?

Não poderia sequer olhar minha carinha de menino

E pelo menos me desejar uma coisiquinha melhor?

Será que nem uma só, só uma pequena regalia?

Já me daria por contente, seu Anjo, e nada mais lhe pediria.

 

Não, carinha, foi implacável o Anjo, nada disso,

Eu não sou de fazer feitiço!

Não sei fazer mágica e nem alterar destino

De quem nasceu para na vida ser um merda.

 

Tá bom, tá bom, seu Anjo, mas assim, de direita?

Como se fosse o outro Carlos, o Lacerda?

Ora, seu Anjo, ainda que não fosse gauche

Pelo menos afastasse dureza tão precoce.

Nem precisava ser tão de esquerda,

Só um pouquinho menos escroto

Para depois da morte não merecer o esgoto.

 

Mas o Anjo, sempre renitente: se assim é o que está escrito

desde o momento vespertino!

Não poderia, nem que eu quisesse, mudar o seu destino!

 

Vá, vá agora, sem demora.

Vá curtir seus pesadelos eternos

No profundo nono círculo dos infernos!

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