Quando ele nasceu um Anjo lhe disse:
Vai, cara, vai ser um merda na vida!
Foi desse jeito mesmo, como se dissesse por
gabolice.
Foi assim, de mau agouro, que o cara entrou na vida
sofrida.
De balde ainda perguntou: seu Anjo, eu não poderia
ser gauche,
tal como o Senhor disse lá para o Carlos, o
Drummond de Andrade?
Ora! Adiantou-se o Anjo: Antes fosse!
Para você, cara, só antevejo uma vida de crueldade.
Ah! Pois então, seu Anjo, nem assim um
pouquinho doce?
Sem chances, e que se conforme: é essa a
realidade.
Meio triste e inteiro sem jeito,
Viu que de nada adiantaria a ilusão
De sonhar uma vida de progresso
Pois que o fracasso já se anunciara de
antemão.
Hoje o cara reconhece no seu maldito rastro
Nada mais do que uma vida de insucesso.
Uma vida inteirinha, desde menino,
Marcada com o selo do infortúnio por ali impresso.
Mas, Anjo, você não poderia mudar meu destino?
Não poderia sequer olhar minha carinha de
menino
E pelo menos me desejar uma coisiquinha
melhor?
Será que nem uma só, só uma pequena regalia?
Já me daria por contente, seu Anjo, e nada
mais lhe pediria.
Não, carinha, foi implacável o Anjo, nada
disso,
Eu não sou de fazer feitiço!
Não sei fazer mágica e nem alterar destino
De quem nasceu para na vida ser um merda.
Tá bom, tá bom, seu Anjo, mas assim, de
direita?
Como se fosse o outro Carlos, o Lacerda?
Ora, seu Anjo, ainda que não fosse gauche
Pelo menos afastasse dureza tão precoce.
Nem precisava ser tão de esquerda,
Só um pouquinho menos escroto
Para depois da morte não merecer o esgoto.
Mas o Anjo, sempre renitente: se assim é o que
está escrito
desde o momento vespertino!
Não poderia, nem que eu quisesse, mudar o seu
destino!
Vá, vá agora, sem demora.
Vá curtir seus pesadelos eternos
No profundo nono círculo dos infernos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário