Miguel Hidalgo y Costilla
era acadêmico, estudioso do iluminismo e defensor dos pobres e
explorados. Ordenou-se padre da igreja católica e participou ativamente da
guerra travada contra os colonizadores espanhóis. Liderou grande parte do
exército mexicano na luta pela Independência do seu povo.
Outro
bravo guerreiro foi o também mexicano Maria Morelos. Quando jovem, ganhava a vida como
negociante de animais; só mais tarde se ordenou padre pela igreja católica.
Comandou e ganhou ao menos três grandes batalhas, libertando muitos territórios
do jugo real. Declarou o catolicismo como religião oficial do seu país e
decretou a igualdade entre espanhóis e mexicanos, entre índios e mestiços.
Hidalgo e Morelos tiveram
em comum algo mais do que a batina e a luta pela Independência da América:
ambos foram presos e fuzilados pelo exército realista. Morelos, em 1811;
Hidalgo, em 1815.
No Brasil, tivemos ao
menos um padre que queria a independência de Portugal, José da Silva Oliveira e
Rolim. Vivendo entre Diamantina e o Serro Frio, foi companheiro de Tiradentes.
Levado de cambulhada na delação de Joaquim Silvério dos Reis, Padre Rolim
livrou-se da forca e foi deportado para Lisboa, onde ficou por 15 anos.
Outros religiosos viriam
depois dele. Uns, no campo ou em pequenas cidades, no norte do país; outros, em
grandes metrópoles.
Padre Josimo Tavares era
Coordenador da Pastoral da Terra, no Bico do Papagaio, no Pará: tombou com dois
tiros nas costas, em 10 de maio de 1986. Irmã Doroth Stang, norte-americana,
fazia trabalhos missionários junto aos pequenos agricultores em Anapu, também
no interior paraense: alvejada com seis tiros, morreu em 12 de fevereiro de
2005. Ambos defendiam trabalhadores, denunciavam a opressão dos latifundiários
e pregavam pela reforma agrária. Ambos foram assassinados por fazendeiros, ou a
mando deles.
Conheci Frei Betto, da
Ordem dos Dominicanos, em 1979, em uma entrevista para um trabalho na
Universidade. Frei Betto nos recebeu com amabilidade no Convento da Rua Caiubi,
nas Perdizes, capital paulista. Foi econômico nas palavras; simpático e bem
receptivo, não quis responder algumas perguntas para não perder o impacto da
obra que estava escrevendo, Batismo de
Sangue.
Mesmo assim Frei Betto
falou sobre as desventuras vividas com seus companheiros de hábito, Frei Tito,
Frei Ivo e Frei Fernando. Todos foram presos e torturados no DOPS de São Paulo,
pelas mãos do violento delegado Fleury; quinze meses de cárcere e de torturas.
Frei Tito foi o mais
castigado e jamais se esqueceria das torturas que lhe foram dispensadas.
Destroçado física e psicologicamente, sofrendo de alucinações constantes, foi
levado pelos seus confrades ao interior da França. Em Lyon, numa manhã de
agosto de 1974, encontraram o seu corpo, balançando na copa de um álamo: esse
cearense, então com 29 anos de idade, encontrou no enforcamento um modo eficaz
de, enfim, se livrar do torturador.
Frei Fernando morreu
recentemente, em março de 2019. Morreu de morte natural, mas sou capaz de
apostar que também carregou seus fantasmas até o túmulo.
Triste fim dos que negam a si mesmos em favor de uma causa!!
ResponderExcluirMas não se acovardaram diante dos seus ideais, por isso estão presentes e são constantemente lembrados!
Parabéns pelo texto
Ezio uma delícia conhecer através de suas palavras um pouco mais da história de pessoas tao importantes que vão ficando invisíveis pelo meio do caminho da história... Obrigada !
ResponderExcluirObrigado, Kátia. Um grande abraço para você. Apareça sempre.
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