Fiz grandes amigos, inesquecíveis amigos. Fraternais amigos. Um deles, o
Zé Roberto, que se despediu desse mundo ao som de My Way, na magistral interpretação de Frank Sinatra. Uma das minhas
músicas preferidas, entre as melhores de todos os tempos, sobretudo na voz de
Sinatra – nem mesmo a emocionada gravação de Elvis Presley é capaz de superá-la.
A letra dessa música foi escrita por Paul Anka, que a deu ao seu amigo
Sinatra para a gravação que se tornaria um clássico. Meu jeito, como por aqui traduzem, é um balanço que o protagonista faz
da sua existência quando pressente que o fim está próximo. Conta sobre a vida
plena que viveu, os caminhos que trilhou, arrependimentos poucos, quedas e
recuperações. Fez tudo o que fez, do jeito dele; parece dizer que faria tudo de
novo, mesmo com os dissabores que a vida lhe reservou.
Combina com a personalidade e com alguns aspectos da vida do intérprete. Sinatra,
imigrante italiano, custou a se firmar na América do Norte. A máfia o teria
protegido, alavancando e bancando a sua carreira. O personagem Johnny Fontane, cantor auxiliado
por Dom Vito Corleone em O Chefão, de
Mário Puzo, dizem que foi inspirado na vida dele.
O curioso é que a música My Way
pouco tem de originalidade. É uma versão americanizada da francesa Comme d´habitude, composição de Claude
François, Jacques Rivaux e Gilles Thibault; fez sucesso na voz de Michel
Sardou. Paul Anka ouviu, gostou da música, mas não da letra. Comprou os
direitos sobre ela e botou letra nova para o amigo gravar.
A letra de Comme d´habitude é
mais sombria, existencialista; fala do cotidiano de um homem que permanece com
a mulher por conta do hábito, do costume. Levanta-se sozinho e sozinho toma o
café, como de costume; como de costume, sai às ruas frias da cidade, nas manhãs
cinzentas, protegendo-se com a gola do capote. Como de costume, não se despede
da mulher, que fica dormindo. Como de costume, vive sozinho o seu dia e, ao
anoitecer, como de costume, volta para casa. Beija a mulher; depois ambos dormem,
como de costume.
Na versão americana, as palavras são mais duras e embrutecidas; na francesa,
mais solidão, mais cinza. Mas a melodia é sempre a mesma, maravilhosa aos
ouvidos, em qualquer das duas versões.
Depois dos funerais do Zé Roberto, nunca mais ouvi My Way; prefiro deixá-la repousando na boa companhia das cinzas do Vila
Alpina.
Maravilhoso texto
ResponderExcluirMuito obrigado, Tadeu. Que bom que você gostou. Abraços.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!!
ResponderExcluirAbraços