Cada época tem as suas próprias expressões populares, palavras da moda. Aparecem
não se sabe de onde, ficam por um tempo. Algumas são engraçadas, outras nem
tanto, mas pegam pelo inusitado e pela aparente insensatez, falta de sentido.
São usadas e consagradas; depois somem do linguajar como se nunca tivessem
existido, não se ouve mais falar delas.
Na minha mocidade, usava-se a expressão “cu de boi” para as situações emaranhadas,
caóticas, confusas. Bastava algum acontecimento um pouco mais embaçado, mais
intrincado ou enrolado, e lá vinha a definição: era um cu de boi! Simples assim,
todo mundo falava isso, nas rodas de conversa. Vai daí que um afamado locutor
esportivo, numa tarde de domingo, transmitia uma partida de futebol que ocorria
no Estádio Archangelo Brega, na minha cidade natal. Bom narrador, transmissão
sempre segura, ágil e, sobretudo, fiel ao que ocorria.
Lá pelas tantas, o adversário faz uma terrível blitz contra o time da casa, colocando em polvorosa a defesa do
CAL. Era todo mundo dentro da área do Lençoense, e o narrador não perdeu um
detalhe sequer. Acompanhou tudo com precisão: o adversário vem no abafa, chuta para o gol, o goleiro defende, rebate a
bola, a bola não sai da área, outro chute, bate na trave, volta para dentro da
área; bola entra-não-entra , quase gol, outra defesa do goleiro, novo rebote, atacante
pula de cabeça, divide com o zagueiro, a bola quica na grande área, alguém
chuta uma canela alheia, um jogador cai e grita enquanto o outro corre; mais uma bola
na trave, empurra-empurra, um desespero só, enfim, uma grande confusão – e o
narrador, seguindo tudo, mais do que empolgado, emendou: “O que é isso, minha
gente? Foi um verdadeiro cu de boi na área do Lençoense”.
Bastou. Foi o assunto da semana, nos botecos, na escola, no serviço. Os
mais antigos lembram até hoje. Já não ouço mais essa expressão, mas ainda é
usada no nordeste brasileiro.
Pela mesma época, outra narrativa histórica. Jogava o mesmo CAL, numa
noite de sábado, no mesmo Archangelo Brega eternamente mal iluminado. No time
da casa estava o zagueiro Alemão, conhecido pela força violenta dos seus
chutes, nas cobranças de falta e nos tiros de longa distância.
Jogo monótono, transmissão monótona, sonolência geral, um marasmo só. Estádio
praticamente vazio. Eis que, enfim, o Alemão desferiu uma de suas atômicas
patadas, lá do meio de campo. Traído pela semiescuridão, o locutor fez uma
tremenda confusão, depois corrigida pelo seu repórter de campo. Foi assim:
- Alemão recebe a bola no meio de campo, domina, prepara, chuta forte,
chuta muito forte e ... a bola... vai para foooora!
De imediato o repórter de campo intervém:
- Não, não! Foi dentro. Foi gol!
- Ah! Sim, sim... Foi gol! O chute do Alemão foi tão forte que até furou
as redes, minha gente! Gooooooooool....
E retorna o repórter de campo, sem nenhum constrangimento:
- Não, não! Nós estamos jogando sem rede!!!
Com baixa audiência, o assunto nem sequer foi comentado. Mas que foi uma
confusão bovina, ah! Isso foi mesmo.
Grande narração essa sua, Ezinho. Fiel aos fatos, como o foi nosso autor da pérola, retrata a verdadeira história do "cú de boi" mais famoso de nossa terra. Ainda muito menino, trabalhando no fórum, ouvi essa história ser contada em meio a muitas gargalhadas dos forenses.
ResponderExcluirKkkkkkk "Cu de boi..." um
ResponderExcluirdia uso essa!
São grandes confusões que somente podem ser traduzidas com expressões populares como essa. kkk
ResponderExcluirAbraços
Verdade, Marcos, tem horas que não dá para segurar. Abraços.
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