Ouvi falar de Jimmy Hoffa,
pela primeira vez, no ano de 1979, em uma reunião da antiga Convergência
Socialista. Foi Babel quem mo descreveu como um sindicalista norte-americano
muito poderoso e carismático, personalista e autoritário, que teria sido assassinado
alguns anos antes. Seu corpo nunca foi encontrado e nem se soube quem o matou.
Hoffa exercia domínio pleno e absoluto sobre tudo que envolvesse os transportes
rodoviários do seu país, assim como sobre tudo o que, de algum modo, pudesse
interferir nas relações entre sindicato e caminhoneiros.
Controlava as sedes distritais,
manipulava as assembleias; organizava e liderava greves gerais, parava o país.
Subornava procuradores, juízes e tribunais. Nada lhe saiu do controle durante duas
décadas. Sua fama correu o mundo.
A ideia que formei sobre Hoffa
era a de um líder sindical de cujo modelo deveríamos nos afastar; não era
exemplo a ser seguido por trotskistas quem pretendiam organizar os
trabalhadores a partir do chão das fábricas. O Centralismo Democrático da C.S.
nos dava a conhecer diversos políticos e líderes mundiais, diversas doutrinas e
passagens da história. Aguçava nosso senso crítico. Babel repetia: ou o
socialismo ou a barbárie.
Hoffa atuava em paralelo
com a máfia italiana; sem ser mafioso, necessitou do apoio dela para intimidações
e perseguições. Ao seu modo, tinha no sindicato dos caminhoneiros a sua máfia particular.
Não gostava dos italianos, a quem chamava de “essa gente”, ou coisa parecida.
Não gostava deles porque, espinha dura, não se dobrava a exigências que
interferissem no seu jeito de agir; no mundo de troca de favores em que vivia,
por vezes não pagava a sua parte na conta.
Jimmy Hoffa nasceu numa
pequena cidade do interior de Indiana, chamada Brazil.
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Hoje recebi meu presente
de Natal, o novo livro do Chico Buarque. Lerei nas férias.
Numa rápida olhada, vejo
que é um texto em forma de diário, com alguns flashbacks, que se reporta à degradação que nos cerca, ao nonsense do cotidiano dessa gente
humilde, que vontade de chorar; dessa gente que hoje anda falando de lado e
olhando para o chão. Não só disso, é verdade, mas também.
Um livro que mostra essa
Torre de Babel de que me falavam antigamente; em que todas as línguas são
pronunciadas e só as do ódio são compreendidas. Essa barbárie, com milícias feito
máfias.
Não me lembro por que, mas a cidade de Brazil foi notícia nos jornais há algumas décadas. Desconfio, depois de ler mais essa excelente crônica, que o motivo tenha sido o tal Jimmy Hoffa. Li o livro do Chico há três dias, numa tacada só. Foi um presente que me concedi por cumprir a promessa de levar alguém (muito querida!) ao Shopping de Botucatu. A obra estava exposta em destaque numa livraria de lá. Recomendo.
ResponderExcluirObrigado, Santino, pela presença. Um lindo livro, com a marca registrada do nosso maior letrista. Abraços.
ExcluirMuito legal, estou sempre aprendendo um pouco mais através de suas crõnicas.Muito obrigado.
ResponderExcluirAí, Everaldo, você é um artista finíssimo, excelente. Gosto da sua arte. Abraços.
ExcluirObrigada por mais um belo texto, Ézio. Só ouvi falar em Hoffa no filme com o Jack Nicholson... agora, vi (e adorei) nO Irlandês... Beijos!!
ResponderExcluirBeth Haga, lindo o filme, não é? Abração.
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