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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Crônica - Essa gente

Ouvi falar de Jimmy Hoffa, pela primeira vez, no ano de 1979, em uma reunião da antiga Convergência Socialista. Foi Babel quem mo descreveu como um sindicalista norte-americano muito poderoso e carismático, personalista e autoritário, que teria sido assassinado alguns anos antes. Seu corpo nunca foi encontrado e nem se soube quem o matou. Hoffa exercia domínio pleno e absoluto sobre tudo que envolvesse os transportes rodoviários do seu país, assim como sobre tudo o que, de algum modo, pudesse interferir nas relações entre sindicato e caminhoneiros.

Controlava as sedes distritais, manipulava as assembleias; organizava e liderava greves gerais, parava o país. Subornava procuradores, juízes e tribunais. Nada lhe saiu do controle durante duas décadas. Sua fama correu o mundo.
A ideia que formei sobre Hoffa era a de um líder sindical de cujo modelo deveríamos nos afastar; não era exemplo a ser seguido por trotskistas quem pretendiam organizar os trabalhadores a partir do chão das fábricas. O Centralismo Democrático da C.S. nos dava a conhecer diversos políticos e líderes mundiais, diversas doutrinas e passagens da história. Aguçava nosso senso crítico. Babel repetia: ou o socialismo ou a barbárie.
Hoffa atuava em paralelo com a máfia italiana; sem ser mafioso, necessitou do apoio dela para intimidações e perseguições. Ao seu modo, tinha no sindicato dos caminhoneiros a sua máfia particular. Não gostava dos italianos, a quem chamava de “essa gente”, ou coisa parecida. Não gostava deles porque, espinha dura, não se dobrava a exigências que interferissem no seu jeito de agir; no mundo de troca de favores em que vivia, por vezes não pagava a sua parte na conta.
Jimmy Hoffa nasceu numa pequena cidade do interior de Indiana, chamada Brazil.
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Hoje recebi meu presente de Natal, o novo livro do Chico Buarque. Lerei nas férias.
Numa rápida olhada, vejo que é um texto em forma de diário, com alguns flashbacks, que se reporta à degradação que nos cerca, ao nonsense do cotidiano dessa gente humilde, que vontade de chorar; dessa gente que hoje anda falando de lado e olhando para o chão. Não só disso, é verdade, mas também.
Um livro que mostra essa Torre de Babel de que me falavam antigamente; em que todas as línguas são pronunciadas e só as do ódio são compreendidas. Essa barbárie, com milícias feito máfias.



6 comentários:

  1. Não me lembro por que, mas a cidade de Brazil foi notícia nos jornais há algumas décadas. Desconfio, depois de ler mais essa excelente crônica, que o motivo tenha sido o tal Jimmy Hoffa. Li o livro do Chico há três dias, numa tacada só. Foi um presente que me concedi por cumprir a promessa de levar alguém (muito querida!) ao Shopping de Botucatu. A obra estava exposta em destaque numa livraria de lá. Recomendo.

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    1. Obrigado, Santino, pela presença. Um lindo livro, com a marca registrada do nosso maior letrista. Abraços.

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  2. Muito legal, estou sempre aprendendo um pouco mais através de suas crõnicas.Muito obrigado.

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    1. Aí, Everaldo, você é um artista finíssimo, excelente. Gosto da sua arte. Abraços.

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  3. Obrigada por mais um belo texto, Ézio. Só ouvi falar em Hoffa no filme com o Jack Nicholson... agora, vi (e adorei) nO Irlandês... Beijos!!

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