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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 28 de junho de 2020

Crônica - MiNas

Era uma época de muita efervescência; era no final dos anos 1970. De repente, alguém entrava em sala de aula e avisava: todo mundo para o TUCA, que vem gente boa para cantar. Pronto! A aula estava acabada. Corríamos para o superlotado teatro para ver e ouvir os craques da música popular. E não sem uma boa dose de apreensão e suspense, em meio à censura e às truculências da ditadura militar que então sufocava. O ambiente universitário era palco das manifestações artísticas para arrecadar fundos para a Campanha em prol da Anistia que, enfim, veio em Agosto de 1979.

Me lembro bem de uma noite em especial. Gonzaguinha se apresentou encostado displicentemente numa parede lateral do palco; cantou três músicas e se foi. Tudo sem dizer uma única palavra, nem mesmo um boa noite. Depois, entrou Milton Nascimento, inteiramente de branco, o boné com a aba voltada para trás, uma garrafinha na mão. Ajeitou-se ao piano e, entre um gole e outro, cantou, sorriu, conversou.
Foi a primeira vez que vi Milton Nascimento.
Milton ficaria gravemente enfermo, nos anos 1990; felizmente, voltou em grande estilo, com o espetáculo Tambores de Minas, a que tive o privilégio de assistir. Talvez o melhor que já vi. Todo dedicado ao rococó mineiro, uma série de shows pelo interior de Minas rendeu um disco lindo, do mesmo nome, com gravações ao vivo.

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Em Diamantina se respira história. Um bem conservado patrimônio arquitetônico, um lindo casario colonial, imponentes igrejas. Pelas suas ruas de pedra passaram Padre Rolim e seus colegas Inconfidentes, passaram o Contratador João Fernandes e a bela Chica da Silva. E passaram os escravos, muitos escravos, sob o peso das pedras que carregavam feitos penitentes, que sangravam pelos nossos pés, que sambaram pelos nossos ancestrais. Sambaram toda sorte de samba, no certeiro registro de Chico Buarque.
Pelas ruas de pedras de Diamantina passaram a Professora Dona Júlia e o seu filho Juscelino, que ali viveram seus tempos de dificuldades.
Ah! Sim, na cidade tem o restaurante da Pousada do Garimpo, onde se come um excelente frango ao molho pardo, sob o magistral preparo do Chef Wandeca; ali se vê uma fotografia icônica, de 1971: o sempre simpático JK, já Presidente, ao lado dos jovens Lô Borges, Fernando Brandt e Milton Nascimento.
Sim, o pessoal do clube da esquina também passou pelas mesmas pedras das ruas de Diamantina.

5 comentários:

  1. Vida, quando bem vivida, faz história. Algo que entranha e que produz ricas lembranças. Minas, minha terra amada. Palco de grandes acontecimentos e geradora de grandes nomes, de belas vozes, de riqueza. Muito boa sua crônica, Ezio! Abraço.

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    1. Minas, já disse o poeta, é no plural porque são muitas; andei por essas imensas veredas e mesmo assim ainda tem um tantão para ver. Cada canto é de um jeito, e de gente diferente é feito; o que não muda é a simplicidade hospitaleira desse povo que dão bom e bonito dá gosto de conhecer.Abraços, Marilene, tudo de bom para você.

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  2. Um tipo de crônica nos permite dois prazeres, imbricados em um ato que flui, a escritura da memória. É o que você pratica, caro Ézio, e com beleza. Siga em frente!

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  3. Meu querido amigo Marco Bin, muito obrigado. Ainda terei o prazer de assistir uma de suas palestras; quem sabe aqui, em Poços? Forte abraço, caríssimo. Saudades.

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  4. Querido Ezio, será um grande prazer reencontrá-lo. Forte abraço!

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