REVERSO
INCLINADO
Dedicação
A Bernadete
Pereira de Almeida, companheira de uma longa e feliz caminhada; a meu filho
Raul Pereira Frezza, lindo presente que Bernadete me deu; a minha mãe, Olga
Basso Frezza, cujo sorriso sempre me alegra.
Aos
pesquisadores Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, Luiz Roberto Judice, Rubens Caruso
Júnior e Jurandir Ferreira, dentre tantos outros que preservam e divulgam nossa
história.
Agradecimento
A minha companheira,
Bernadete Pereira de Almeida, ao meu irmão Santino Frezza, ao Dr. Gaspar
Eduardo de Paiva Pereira, ao Dr. Fábio Camargo de Souza, ao Dr. Virgílio Diniz
Carvalho Gonçalves, Dr. Marcio Dias e ao Jhonatan Walker; todos colaboraram com
sugestões e críticas de grande valia.
Homenagem
Ao Dr.
Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, cultor das letras e escritor, historiador,
administrador público e professor universitário – decano dos nossos mestres:
parceiro de
bancos escolares por alguns meses;
colega de
cátedra universitária por duas décadas;
minha referência
ética pela eternidade.
Homenagem póstuma
Ao meu pai,
Ezio Frezza, que deixou imensa saudade; incansável trabalhador braçal que, apesar
da falta de instrução formal, tinha memória privilegiada e raciocínio rápido –
e era leitor voraz.
Nota do autor (1)
Este livro foi cometido por mero divertimento,
sem maiores pretensões; seu enredo é linear e de fácil compreensão. Nele o
leitor encontrará muitas homenagens, singelas todas elas e de propósito espalhadas
em diversas passagens.
Os personagens foram criados
especialmente para a obra, sem qualquer conexão com pessoas conhecidas; algumas
passagens reverenciam grandes autores e personagens da literatura universal, sobremodo
dentre os que ficaram consagrados no gênero policial, que serão de pronto
identificados.
Um crime ocorre no outono de 1970 e a
partir daí a trama se estende até o ano de 1977, apresentando diversos aspectos
históricos e políticos da vida nacional. O leitor entenderá o que é real e o
que é fictício, não olvidando que os livros de ficção têm muito de história e
os de história têm muito de ficção.
Maio de 2018
Nota do autor (2)
Fiz a revisão do livro para fins de
publicação virtual; na medida do possível, acertei algumas imperfeições
gráficas, que tantos dissabores me causaram. As que eventualmente ainda restam
devem ficar na minha conta, portanto. Creio que o texto, agora um pouco mais enxuto, permita maior fluência na leitura, mas sem perda de conteúdo.
Julho de 2020
1.
Águas Virtuosas
Quem a visita, nos dias de hoje, não
pode imaginar que aqui já foi, em tempos remotos, um imenso lamaçal; essa
cidade nunca deixou de ter o seu charme particular, porquanto localizada no centro
de uma esplêndida e desativada caldeira vulcânica. O local foi descoberto pelas
bandeiras que por estas bandas chegaram em busca de ouro e de pedras preciosas,
em algum momento durante o ciclo da mineração.
Ao contrário dos grandes veios que
foram localizados nas vastas minas gerais e que fizeram a riqueza dos portugueses,
por estas plagas os primevos exploradores e aventureiros restaram inteiramente frustrados
em seus intentos iniciais. Apesar das intensas buscas e garimpagens desenvolvidas
em rios e barrancos, nada encontraram das preciosidades tão esperadas; todavia,
a triste realidade não foi capaz de repelir aqueles homens e fazê-los voltar às
suas terras de origem; a frustração inicial foi, pouco a pouco, cedendo espaço para
outra espécie de atrativo: a reconfortante riqueza das águas minerais que
jorravam, para deleite geral, frescas aqui ou escaldantes ali, em quantidade
tal e por todos os poros do relevo. O pisoteio dos homens e dos animais de
montaria e de carga transformava tudo em lama negra e pegajosa, de proporções gigantescas.
Muitas fontes de águas cristalinas e de
temperaturas variáveis saiam das brotas; das mais recônditas entranhas da terra
e de todas as grotas escorriam sem fim. Dentre todas elas, o que mais despertava
a atenção eram os intensos jorros de águas escaldantes: desacostumados com tal
fenômeno, muitos banhistas desavisados sofriam sérias vertigens e tonturas por
conta da queda de pressão arterial.
Ao mesmo tempo em que esses dissabores
ocorriam, as águas quentes também proporcionavam a alegria dos catadores de
mãos grossas e calejadas pelo uso de enxadões e bateias: as águas sulfurosas, de
secagem rápida pela sua imediata evaporação, deixavam nos braços e nas pernas um
bálsamo fragrante e sedoso, que os revigoravam imediatamente, minorando tanto o
cansaço sentido nos longos caminhos íngremes de subida quanto o cansaço pelos
duros trabalhos diários de cata.
A inaudita beleza do lugar compensava
os ventos constantes e o frio intenso e inclemente. Uma pena era a presença da neblina;
na falta dos ventos em determinadas épocas do ano, a cortina branca por ela
formada impedia uma visão mais abrangente do entorno, tirando das vistas as
matas verdes e intocadas, povoadas de quatis e macacos-prego.
O barreiro formado pelo tropel veio a
servir de inspiração para a primeira alcunha do lugar. As notícias das contribuições
milagrosas das águas sulfurosas não tardaram a correr fama pelo Brasil afora e
isso levou um próspero fazendeiro das imediações a solicitar do Imperador, com
quem mantinha amizade próxima, uma sesmaria para nela expandir sua já extensa e
próspera criação de gado.
Obtida, finalmente, a dádiva imperial,
o donatário mandou construir os banhos públicos, que se constituíram na grande
novidade que faltava para atrair os visitantes. Seduzidos pela qualidade das
águas cálidas e benfazejas, homens e mulheres foram chegando a todo instante; uns
apenas de passagem e outros se instalando em definitivo. Pouco depois, da
sesmaria foi desmembrada, por doação do fazendeiro, uma sorte de terras com
aproximados 50 hectares, para o alinhamento de ruas, becos e avenidas, lugares
para as praças e jardins, o retângulo central para a Igreja Matriz, a cadeia de
pedras, um barracão para servir de mercado, a escola pública com salas
separadas para os dois sexos, bem como locais para a edificação de chafarizes,
fontanários e banhos.
Para as solenidades de inauguração da
nova cidade foi convidado o Imperador; por missiva de resposta, Sua Majestade
declinou do convite, mas deixou aberta a possibilidade de uma futura visita, o
que veio a ocorrer algum tempo depois, quando da inauguração do
ramal estrada de ferro.
Há dúvidas se aquela doação foi um ato
altruístico e de generosidade, própria dos homens despojados e não afeitos aos
bens materiais, ou, então, se foi de caso pensado, com vistas a uma previsível
e rápida valorização das terras que lhe sobejaram. O fato é que, em pouco
tempo, havia uma cidade inteira gravitando ao redor da fazenda de gado, de modo
que a propriedade, assim, deixou de se ver isolada nos altos da gelada
montanha.
A Barreiro que dali surgiu caminhou, a
passos largos, para as Águas Virtuosas, e foi criando fama mundial com o passar
do tempo. Políticos influentes, ricaços de todas as origens, artistas e
boêmios, trabalhadores, escravos forros, enfim, muita gente aqui veio para
fazer a vida. Um pouco mais tarde, inclusive, vieram os apostadores inveterados
das mesas de jogos que se espalharam pelos bares e cassinos.
Foi nesse cenário apaixonante, fadado
ao domínio perene dos coronéis, que muito tempo depois se desenrolou uma
história que até hoje não foi contada em todos os seus pormenores. Fazendeiros
e capatazes, caseiros e camareiras, índios e escravos, ingleses e outros
europeus deixaram descendentes que se veriam, uns já de caso pensado e outros
sem querer, envolvidos em uma trama perversa que foi tecida em torno de alguns
sacos de esmeraldas – por ironia do destino, aquelas mesmas pedras preciosas
que a natureza negara aos primeiros exploradores da região serviriam, depois, de
mote para um violento e comovente assassinato.
Mal sabiam os desbravadores e
aventureiros que a neblina intensa e gelada dessas montanhas acobertaria uma
série de manobras destinadas à consecução de um crime que abalaria a
virtuosidade de nossas águas. Figuras respeitadas – e outras nem tanto –
esgueiravam-se pelas beiras de muros e de barrancos, por becos e encostas, para
surgirem em ambientes de meia luz não muito recomendados, onde se reunia a fina
flor da sociedade.
Nem o melhor dos nossos detetives
conseguiu desvendar o mistério a contento; somente um infortúnio sofrido pelo verdadeiro
assassino é que foi capaz de trazer a verdade à tona, quase que acidentalmente.
Excelente escrita professor!!
ResponderExcluirMuito obrigado. Grande abraço, felicidades.
ExcluirQuero ler o próximo capítulo!!! Leitura instigante...
ResponderExcluirParabéns por riqueza nos detalhes... dá para imaginar cada cena.
Eliane, tudo bem? Que bom que esteja gostando. Abraços e felicidades.
ExcluirEu adoro leituras..quero ir até o fim do livro..ainda mais com essa riqueza de detalhes que consegue prender a atenção do leitor
ResponderExcluirBem-vinda, Araci. Muito obrigado, espero que se divirta. Abraços.
ExcluirO cenário é inspirador. Vejamos o que você nos reserva rss.
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