O Haiti é um país de belezas naturais tão exuberantes que os franceses a chamavam de A Pérola do Caribe. A região em que se insere foi conquistada por Cristóvão Colombo em 1492 – e bastaram poucas décadas para que os espanhóis dizimassem quase toda a sua população nativa.
Em 1697, A Espanha cedeu o que hoje é
o Haiti para a França, que então o colonizou com mãos ferro: a impiedosa
escravidão do povo negro foi utilizada no cultivo da cana de açúcar e faz do Haiti
uma das mais importantes fontes de renda dos franceses.
Acreditando que o lema liberté,
égalité e fraternité
se aplicava também aos negros escravizados, Jean-Jacques Dessalines e Toussaint
L’Ouverture, ambos descendentes de escravos, lideraram, a partir de 1791, uma série
de revoltas contra os europeus, impondo-lhes sucessivas derrotas, primeiro aos
espanhóis que pretendiam reconquistar o país, e, em seguida, aos franceses. E
foi assim, com muita luta, com muito sangue e com muitas vidas, que os bravos
negros tornaram o Haiti independente.
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Graham Greene foi um profícuo
romancista; escreveu, também, diversas peças teatrais, contos e ensaios; nasceu
num povoado ao norte de Londres, em 1904, e faleceu na Suíça, em 1991. Flertou
com o Partido Comunista na juventude e, durante a Segunda Guerra, foi membro do
Serviço Secreto Inglês. Greene viajou o mundo, conhecendo as realidades locais
e coletando material para as suas obras.
Foi assim que Greene produziu
excelentes romances, retratando as realidades sociais e políticas dos países visitados:
O Nosso Homem em Havana (em Cuba), O Americano Tranquilo (na Indochina),
O Consul Honorário (na região do Rio da Prata), O Agente Confidencial
(na Inglaterra), Um Lobo Solitário (Panamá), O Décimo Homem (França)
e O Poder e a Glória (México), são apenas alguns exemplos dentro da
vasta produção literária do autor em questão.
Greene escreveu, também, Os Comediantes,
obra em que retrata o sofrimento do povo haitiano sob a feroz ditadura do clã
Duvalier: François Duvalier, conhecido como Papa Doc e que governou o país de 1957
a 1971, quando faleceu, e seu filho, Jean-Claude Duvalier, conhecido por Baby
Doc, que continuou as atrocidades do pai até 1986, quando foi deposto por uma
sublevação popular.
Essa dinastia castigou barbaramente o
povo haitiano por 30 anos seguidos, espoliando suas riquezas e reduzindo a
população do país à miserabilidade absoluta. A guarda pessoal desses ditadores,
formada pelos famosos Tontons Macoutes, aterrorizou o país do modo mais
violento possível, subjugando e assassinando quem ousasse questioná-los.
Baby Doc foi apeado do poder por uma
revolta popular. Desde então o Haiti vem sendo dominado por efêmeros e
combalidos governantes e por toda ordem de milicianos, gangues e facções – e sem
se falar da valiosa ajuda que recebem de mercenários estrangeiros.
Não bastasse isso, em 2010 o país foi
sacudido por um violento terremoto, que matou aproximadamente 200 mil pessoas.
Os escombros de casas e prédios até hoje estão à mostra, sem reconstrução; não
há saneamento básico, boa parte da população vive em barracas cedidas pela ONU,
a fome e as doenças são uma constante.
Não é por acaso que o Haiti é um dos
países mais pobres do mundo.
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A propósito das gangues, das milícias
e das facções, não há como esquecer da emblemática letra de Gilberto Gil: Pense
no Haiti / Reze pelo Haiti / O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui.
Enfim, nesse triste cenário, o
assassinato do Presidente Jovenel Moïse, ocorrido agora, na madrugada de 07 de julho,
não é senão mais uma gota nesse oceano de atrocidades que assola o que resta da
Pérola do Atlântico. Ou, por outra, não é o assassinato de um Presidente: é o
assassinato arrastado, sistemático, longo, perene e sem fim, do próprio povo
haitiano.
Parabéns por esta crônica, nos ensina bastante.
ResponderExcluirMuito obrigado, Clarice Villac, pela visita. É uma honra recebê-la aqui.
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