Edgar Alan Poe é um dos meus preferidos, dentre tantos que admiro nas letras. Um contista perfeito: O Barril de Amontilado, por exemplo, é uma verdadeira obra prima, que não me canso de reler. É dele também O Corvo, poesia enigmática e dolorida; conta-se para além de 50 versões para a língua portuguesa, com as mais variadas leituras, releituras, adaptações e estudos, inclusive na versão concretista, dos irmãos Campos. Há, também, uma versão musical muito curiosa e interessante, feita por uma dupla sertaneja dos anos 1970, Conde e Drácula, que vale a pena ser ouvida.
São festejadas as traduções de Fernando Pessoa e de, entre nós, Machado
de Assis. Nada entendo sobre a arte das traduções e nem opino sobre isso; mas,
particularmente, gosto mais de uma outra, a de Milton Amado, jornalista
mineiro que bem captou a aura sombria que nublava a mente de Edgard. Milton
Amado dá o tom do sofrimento humano pela perda do ente querido em uma tradução
comovente.
Já me desculpando pela ousadia em meio a tão insignes letristas, peço
licença aos poucos leitores para mostrar a minha leitura, modestíssima,
diga-se, de O Corvo:
Noite gelada, madrugada
adentro
um intrigante problema
enxadrístico:
ver mate em quatro com final
artístico
nos escaques que devassava
atento.
Sondava de cálculos mais de
um cento
quando do corvo ouvi o
crocitar ártico.
Edgard? Lenora? Pavor
cabalístico.
Corri para minha amada – e que
alento!
Recebi o sinal de vida
querido,
Da minha Lenora o sorriso
brando.
Vai-te, corvo! Vai-te sem
alarido!
Never, never more! Não faz
sentido!
Jamais me sobressalte assim
grasnando,
Já basta o tanto que Edgard
tem sofrido.
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