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quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Poesia - O Corvo

 

Edgar Alan Poe é um dos meus preferidos, dentre tantos que admiro nas letras. Um contista perfeito: O Barril de Amontilado, por exemplo, é uma verdadeira obra prima, que não me canso de reler. É dele também O Corvo, poesia enigmática e dolorida; conta-se para além de 50 versões para a língua portuguesa, com as mais variadas leituras, releituras, adaptações e estudos, inclusive na versão concretista, dos irmãos Campos.  Há, também, uma versão musical muito curiosa e interessante, feita por uma dupla sertaneja dos anos 1970, Conde e Drácula, que vale a pena ser ouvida.

São festejadas as traduções de Fernando Pessoa e de, entre nós, Machado de Assis. Nada entendo sobre a arte das traduções e nem opino sobre isso; mas, particularmente, gosto mais de uma outra, a de Milton Amado, jornalista mineiro que bem captou a aura sombria que nublava a mente de Edgard. Milton Amado dá o tom do sofrimento humano pela perda do ente querido em uma tradução comovente.

Já me desculpando pela ousadia em meio a tão insignes letristas, peço licença aos poucos leitores para mostrar a minha leitura, modestíssima, diga-se, de O Corvo:



Noite gelada, madrugada adentro

um intrigante problema enxadrístico:

ver mate em quatro com final artístico

nos escaques que devassava atento.

 

Sondava de cálculos mais de um cento

quando do corvo ouvi o crocitar ártico.

Edgard? Lenora? Pavor cabalístico.

Corri para minha amada – e que alento!

 

Recebi o sinal de vida querido,

Da minha Lenora o sorriso brando.

Vai-te, corvo! Vai-te sem alarido!

 

Never, never more! Não faz sentido!

Jamais me sobressalte assim grasnando,

Já basta o tanto que Edgard tem sofrido.






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