Diversas pessoas juram que viram, com os olhos que a terra haverá de comer, um ET, nas proximidades de um muro, ao lado dos trilhos da estrada de ferro que corta Varginha, no sul de Minas. Teria sido num anoitecer de janeiro de 1996, apenas alguns meses antes do acaso me levar a residir naquela bucólica cidade.
Ouvi muitas
histórias sobre o episódio. Entre cândidos e céticos, nada além do que se
costuma ouvir nestas situações. De concreto, ou melhor, de alumínio, constatei apenas
a presença de um imenso e brilhante disco voador, que do topo de uma alta
coluna ornamenta a praça central da cidade e faz a alegria de turistas e
crianças.
Eis que,
agora, Varginha volta ao noticiário nacional. Não mais por um suposto ET, mas
pela aparição de 26 cangaceiros, regiamente executados. Os cangaceiros do “novo
cangaço”.
Seria
inacreditável se não fosse por um fato inquestionável: os 26 corpos perfurados a
bala. Pura realidade. Não há do que duvidar, nem da letalidade da ação e nem
das intenções do grupo, fortemente armado conforme as declarações oficiais.
Acreditemos, pois!
O que não dá
para aceitar, e que me perdoem os doutores, é a defesa pública da ação policial. Fico a me perguntar: o que foi feito do devido
e justo processo legal, de que tanto falamos? O que foi feito do “processo como
movimento em contraditório”, asseverado por Fazzalari? O que foi feito, aliás,
do contraditório e da ampla defesa, constitucionalmente garantidos? O que foi
feito do Estado Democrático de Direito?
Custo a
acreditar no que tenho lido. Dizem que mereceram morrer, muito embora, ao menos
enquanto escrevo, quatro mortos ainda sequer foram identificados; de outros já
se sabe que não tinham passagem alguma pela polícia e de nada foram formalmente
acusados.
Imagino que
as autoridades, oniscientes e onipresentes, denunciaram o grupo a si próprias,
investigaram, indiciaram, coletaram provas, avaliaram as provas, julgaram os
réus e executaram a pena (de morte) imposta em sua própria sentença. Dá-lhe
economia processual! Dá-lhe celeridade processual! Dá-lhe efetividade da
decisão!
Lembro, não
por acaso, que a historiografia brasileira registra a ação das “Volantes”, contingentes
que se embrenhavam pelo sertão nordestino para matar cangaceiros, até os anos
1930, aproximadamente. As Volantes eram formadas por policiais da ativa e por
moradores do agreste. Portavam armas das corporações e eram comandados por um
oficial do exército ou por um delegado de polícia. Nada de clandestino, portanto.
Pois a
história se repete. E não ficarei surpreso se brevemente avistar uma viatura
policial, brilhante e colorida, colocada no alto de imenso pedestal como homenagem
aos bravos volantes da nossa atualidade – e bem ao lado do disco voador da
praça central da cidade.
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Monteiro
Lobato escreveu em seu diário, reproduzido no livro “Mundo da Lua”: “A ideia de
justiça é criação puramente humana. Na natureza não há justiça, há lógica. A
natureza não é boa nem má, justa ou injusta: é lógica. Vai ao fim cegamente
colimado através de todos os óbices – e vai sempre pelo caminho mais curto. A
linha curva é invenção humana. Fora do homem, há o ponto de partida, o ponto de
chegada e a reta que os une”.
Tenho dúvidas
se o autor paulista criticava o direito curvo; talvez sim. Mas de uma coisa
tenho certeza: os homens estão voltando a adotar o direito reto, tal qual os
animais na natureza.
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