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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 9 de janeiro de 2022

Crônica - Brega chique!

No excelente Verdade Tropical, livro de 1997, Caetano Veloso conta sobre a palavra brega, muito usada nos anos 1990 para definir algo espalhafatoso, chamativo ou de mau gosto. Segundo Caetano, brega é uma gíria baiana e significava, na sua origem, puteiro; foi cunhada a partir de uma placa de rua, Rua Manoel da Nóbrega, na cidade de Salvador ou Cachoeira, no Recôncavo Baiano.

A placa, com o tempo, se quebrou, deixando para os passantes apenas uma leitura truncada: Rua ... brega. E assim ficou: Rua Brega, depois Rua do Brega e tal e coisa. E, por extensão, também o prostíbulo daquela rua ficou conhecido por brega: Vamos ao brega? Você foi ao brega? E isso justificaria a associação do brega ao espalhafatoso, ao excesso de cores, coisas do tipo.

Brega é também o nome do estádio de futebol da minha terra natal. Mas, importante diferença: em Lençóis Paulista a pronúncia do “e” é fechada, como se tivesse um circunflexo, tipo Brêga. Estádio Municipal Archângelo Brega, ou Bregão, tal como popularmente é chamado.

Didi, bicampeão mundial em 1958 e 1962, jogou neste estádio em meados da década de 1940; Didi era ainda um garoto franzino, que não usava chuteiras e só jogava descalço; e claro, nem pensava que viria a ser o Príncipe Etíope dos gramados, na alcunha que lhe deu Nelson Rodrigues por sua elegância em campo.

Foi no Bregão que tomei meus primeiros contatos com o futebol, levado pelo meu saudoso pai nas tardes de domingo. Lembro-me perfeitamente do uniforme do CAL – Clube Atlético Lençoense, dos anos 1960, e do seu inigualável escudo. Ainda retenho as imagens de alguns jogadores daquela época:- Romaninho, goleiro ágil e sereno, sempre de camisa cinza; Milton Calu, também goleiro, sempre de camisa preta; Toninho Biral, zagueiro parrudo e destemido; Vórus, zagueiro central alto e dono de um chute portentoso; Walter Pacífico, um exímio cabeceador, apesar da pouca estatura; Jura, ponta veloz e habilidoso, que se esgueirava pelas laterais do gramado. E os irmãos Carlão e Cláudio Stanghini, craques de bola - para delírio do pai deles, Nicola, nosso vizinho.

São Marcos, pentacampeão em 2002, deslanchou sua carreira a partir do CAL – mas não tive o privilégio de vê-lo no Bregão; ficou vários anos em Lençóis até ser cedido ao Palmeiras em troca de alguns pares de chuteiras. 

O Brega é chique! Hoje a torcida Aranha Negra, organizada pelo Professor João Paulo, desfralda a bandeira “O Bregão é nosso”, em busca da recuperação do estádio. É um patrimônio que há muito tempo se acha abandonado e que merece restauro.






PS:- Com os agradecimentos para os meus irmãos Célio e Santino Frezza, que me ajudaram em alguns detalhes desta crônica.

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