No excelente Verdade Tropical, livro de 1997, Caetano Veloso conta sobre a palavra brega, muito usada nos anos 1990 para definir algo espalhafatoso, chamativo ou de mau gosto. Segundo Caetano, brega é uma gíria baiana e significava, na sua origem, puteiro; foi cunhada a partir de uma placa de rua, Rua Manoel da Nóbrega, na cidade de Salvador ou Cachoeira, no Recôncavo Baiano.
A placa, com
o tempo, se quebrou, deixando para os passantes apenas uma leitura truncada: Rua
... brega. E assim ficou: Rua Brega, depois Rua do Brega e tal e coisa. E, por
extensão, também o prostíbulo daquela rua ficou conhecido por brega:
Vamos ao brega? Você foi ao brega? E isso justificaria a associação do brega ao
espalhafatoso, ao excesso de cores, coisas do tipo.
Brega é
também o nome do estádio de futebol da minha terra natal. Mas, importante
diferença: em Lençóis Paulista a pronúncia do “e” é fechada, como se tivesse um
circunflexo, tipo Brêga. Estádio Municipal Archângelo Brega, ou Bregão, tal
como popularmente é chamado.
Didi,
bicampeão mundial em 1958 e 1962, jogou neste estádio em meados da década de 1940;
Didi era ainda um garoto franzino, que não usava chuteiras e só jogava descalço;
e claro, nem pensava que viria a ser o Príncipe Etíope dos gramados, na
alcunha que lhe deu Nelson Rodrigues por sua elegância em campo.
Foi no Bregão
que tomei meus primeiros contatos com o futebol, levado pelo meu saudoso pai
nas tardes de domingo. Lembro-me perfeitamente do uniforme do CAL – Clube
Atlético Lençoense, dos anos 1960, e do seu inigualável escudo. Ainda retenho
as imagens de alguns jogadores daquela época:- Romaninho, goleiro ágil e sereno,
sempre de camisa cinza; Milton Calu, também goleiro, sempre de camisa preta; Toninho
Biral, zagueiro parrudo e destemido; Vórus, zagueiro central alto e dono de um chute
portentoso; Walter Pacífico, um exímio cabeceador, apesar da pouca estatura;
Jura, ponta veloz e habilidoso, que se esgueirava pelas laterais do gramado.
São Marcos, pentacampeão em 2002, deslanchou sua carreira a partir do CAL – mas não tive o privilégio de vê-lo no Bregão; ficou vários anos em Lençóis até ser cedido ao Palmeiras em troca de alguns pares de chuteiras.
O Brega é
chique! Hoje a torcida Aranha Negra, organizada pelo Professor João Paulo,
desfralda a bandeira “O Bregão é nosso”, em busca da recuperação do estádio. É um
patrimônio que há muito tempo se acha abandonado e que merece restauro.
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