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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Crônica - Jin Jones

 

Num tempo em que não tínhamos internet e nem redes sociais, foi através da Folha de São Paulo que eu li, numa manhã de novembro de 1978, sobre um suicídio coletivo, ocorrido na Guiana, provocado por um fanático religioso conhecido por Jim Jones. Muito se escreveu acerca deste episódio: centenas de páginas sobre o assunto, uma infinidade de livros, teses e artigos acadêmicos, diversos filmes e documentários estão à disposição do leitor.

James Warren Jones, nascido num interior de Indiana, nos EUA, tornou-se um líder religioso respeitado entre os seus seguidores. De hábitos solitários, lia os grandes líderes mundiais, indo de Hitler até Stálin, passando por Karl Marx e Mahatma Gandhi. Depois, enveredou pela religião; fez cursos na Igreja Metodista e passou a fazer pregações.

Com qualidades retóricas e com os conhecimentos teóricos que detinha, fundou a sua própria igreja, angariando cada vez mais fiéis.  No início dos anos 1960, falou sobre a iminência de uma guerra nuclear, da qual seriam salvos apenas os que o seguissem. E foi além, propagou mentiras sobre o suposto fim dos tempos, sob patrocínio das governanças mundiais, da Ku Klux Kan, dos nazistas e dos comunistas. Convenceu seus fiéis a se reunirem num território próprio, a que deu o nome de Jonestown, ou Cidade de Jones.

Perseguidos nos EUA, vieram para o Brasil e em seguida se instalaram na Guiana (ex-inglesa). Neste momento, o messianismo de Jones já era evidente e preocupante. Era adorado como o salvador do mundo, um deus onipresente e onipotente. Cumpriam cegamente as ordens que Jones lhes passava: cediam-lhe suas filhas para práticas sexuais, trabalhavam como escravos para manutenção da comunidade, submetiam a vida privada ao seu controle absoluto. Não podiam, jamais, deixar o local.

Apesar das constantes denúncias que se faziam, inclusive vindas de autoridades estadunidenses, o número de fiéis crescia cada vez mais, como que num transe coletivo e, como tal, inexplicável, em busca da salvação prometida pelo messias. Tendo adotado o uso de drogas alucinógenas, Jones incutiu na comunidade que o ataque de exércitos estrangeiros estava próximo e que todos deveriam rezar e se manter unidos no seu entorno como única possibilidade de salvação.

Algumas dezenas de pessoas, enfim, conseguiram fugir de Jonestown e confirmaram as suspeitas internacionais sobre as atrocidades ali cometidas. Vendo-se na contingência de sofrer um ataque externo que resgataria os seus fiéis, Jim Jones conclamou-os a um suicídio coletivo: 918 pessoas, homens e mulheres, velhos e crianças, na noite de 17 de novembro de 1978, ingeriram cicuta como um ato revolucionário; seus corpos foram encontrados dias depois, num cenário incrível e difícil de ser descrito. Jones atirou naqueles que não lhe obedeceram e, por fim, meteu uma bala no próprio crânio.

Uma observação final: pelo que me consta, os suicidas não rezaram diante de pneus de caminhão e nem aos pés dos recos nas portas do TG, não vestiram os santos nos altares com os símbolos do líder. Também não xingaram, não agrediram e nem mataram seus opositores, não destruíram patrimônio público, não tentaram golpe de estado. E nem invocaram, nas noites quentes da Guiana, a ajuda de seres extraterrestes, embora já existissem lanternas de pilha capazes de direcionar luzes para o centro das respectivas cabeças.

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