Num tempo em que não tínhamos internet e nem redes sociais, foi através da Folha de São Paulo que eu li, numa manhã de novembro de 1978, sobre um suicídio coletivo, ocorrido na Guiana, provocado por um fanático religioso conhecido por Jim Jones. Muito se escreveu acerca deste episódio: centenas de páginas sobre o assunto, uma infinidade de livros, teses e artigos acadêmicos, diversos filmes e documentários estão à disposição do leitor.
James Warren Jones, nascido num interior
de Indiana, nos EUA, tornou-se um líder religioso respeitado entre os seus
seguidores. De hábitos solitários, lia os grandes líderes mundiais, indo de
Hitler até Stálin, passando por Karl Marx e Mahatma Gandhi. Depois, enveredou
pela religião; fez cursos na Igreja Metodista e passou a fazer pregações.
Com qualidades retóricas e com os
conhecimentos teóricos que detinha, fundou a sua própria igreja, angariando
cada vez mais fiéis. No início dos anos
1960, falou sobre a iminência de uma guerra nuclear, da qual seriam salvos apenas
os que o seguissem. E foi além, propagou mentiras sobre o suposto fim dos
tempos, sob patrocínio das governanças mundiais, da Ku Klux Kan, dos nazistas e
dos comunistas. Convenceu seus fiéis a se reunirem num território próprio, a
que deu o nome de Jonestown, ou Cidade de Jones.
Perseguidos nos EUA, vieram para o
Brasil e em seguida se instalaram na Guiana (ex-inglesa). Neste momento, o
messianismo de Jones já era evidente e preocupante. Era adorado como o salvador
do mundo, um deus onipresente e onipotente. Cumpriam cegamente as ordens que Jones
lhes passava: cediam-lhe suas filhas para práticas sexuais, trabalhavam como escravos
para manutenção da comunidade, submetiam a vida privada ao seu controle
absoluto. Não podiam, jamais, deixar o local.
Apesar das constantes denúncias que se
faziam, inclusive vindas de autoridades estadunidenses, o número de fiéis crescia
cada vez mais, como que num transe coletivo e, como tal, inexplicável, em busca
da salvação prometida pelo messias. Tendo adotado o uso de drogas alucinógenas,
Jones incutiu na comunidade que o ataque de exércitos estrangeiros estava próximo
e que todos deveriam rezar e se manter unidos no seu entorno como única possibilidade
de salvação.
Algumas dezenas de pessoas, enfim,
conseguiram fugir de Jonestown e confirmaram as suspeitas internacionais sobre
as atrocidades ali cometidas. Vendo-se na contingência de sofrer um ataque
externo que resgataria os seus fiéis, Jim Jones conclamou-os a um suicídio
coletivo: 918 pessoas, homens e mulheres, velhos e crianças, na noite de 17 de
novembro de 1978, ingeriram cicuta como um ato revolucionário; seus corpos
foram encontrados dias depois, num cenário incrível e difícil de ser descrito.
Jones atirou naqueles que não lhe obedeceram e, por fim, meteu uma bala no próprio
crânio.
Uma observação final: pelo que me
consta, os suicidas não rezaram diante de pneus de caminhão e nem aos pés dos recos
nas portas do TG, não vestiram os santos nos altares com os símbolos do líder.
Também não xingaram, não agrediram e nem mataram seus opositores, não
destruíram patrimônio público, não tentaram golpe de estado. E nem invocaram,
nas noites quentes da Guiana, a ajuda de seres extraterrestes, embora já
existissem lanternas de pilha capazes de direcionar luzes para o centro das
respectivas cabeças.
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