Postagem em destaque

Sobre o Blog

Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Crônica - Cumuruxatiba

 

Estivemos na então desconhecida Cumuruxatiba, ao sul de Porto Seguro, em março de 1992. Viajamos tão logo confirmada a gravidez da minha companheira, Bernadete, que esperava o nosso querido Raul. Três dias de viagem de São Paulo até lá, num Ford Escort de segunda mão, com duas paradas pelo caminho: em Rio das Ostras/RJ e em Aracruz/ES. Nesta última aproveitamos as boas instalações de um hotel, que compensou o cheiro nauseante da imensa fábrica de celulose que já predominava no local.

Situada no município de Prado/BA, era apenas uma pequena e modesta colônia de pescadores e agricultores; apenas duas ou três casas de veraneio. Uns poucos mochileiros se aventuravam por aquelas paragens, a que se chegava por uma estrada de terra, mais areia do que terra, atravessando uma precaríssima ponte de madeira, bem rente às águas límpidas de um riacho. A única pousada era acoplada ao único restaurante da vila, em que serviam apenas o café da manhã e o almoço. Mas podíamos contar com as saborosas refeições servidas por uma moradora local, na sua própria casa. E o mais era a natureza praticamente intacta, à disposição de seis ou oito turistas, incluindo dois dinamarqueses.

Determinado dia, fomos para a Japara Grande, lugar de formosas falésias. O simpático Major abriu a porteira da sua fazenda para que pudéssemos alcançar a praia, seguindo por um caminho arenoso em meio a uma plantação de mamão papaia. Foi um dia inesquecível. Apenas e tão somente nós três; ninguém mais. O Major teve a bondade de chamar o Bráz, que gentilmente abriu o único e precário quiosque para nos servir alguns deliciosos caranguejos. Sim, claro, recolhidos ali mesmo, na hora.

Foi na Japara Grande que fiz a melhor pescaria da minha vida: um robalo e quatro bons bagres do mar, conforme identificados pelo Bráz. Todos de bom tamanho. Pescados na foz daquele riacho já mencionado. Depois, já na pousada, foi um jantar e tanto: arroz branco, salada de tomate e cebola, mais os peixes e, para completar, três belas lagostas fisgadas horas antes pelo cuidador da cozinha, o Zé Mineirinho, também mergulhador nas horas vagas. Sim, um jantar inesquecível, para seis ou oito pessoas.

Voltamos para Cumuruxatiba poucos anos depois, quando o Raul pode, então, aproveitar livremente as delícias do local. Detalhe interessante: uma camiseta, vendida na pousada, trazia as inscrições, em letras garrafais: na frente, “CU O QUÊ?”; e atrás, “CUMURUXATIBA!”. A frisar, na descontração típica dos baianos, que o próprio nome do local era desconhecido e quase que impronunciável.

 


Foto: Bernadete P. de Almeida

7 comentários:

  1. Maravilha. Passeios assim são o que há de melhor. Há quem prefira ficar confinado em um cruzeiro marítimo, ir à Disney e outros, que abomino igualmente. Cumuruxatiba e afins só para quem tem bom gosto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esses são alguns passeios que jamais farei. Não, nunca, jamais. Nosso país é riquíssimo em atrações. Abraços, meu irmão.

      Excluir
  2. Tempo de reunir as crônicas para uma publicação, caro Ezio!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Qualquer hora, meu caro amigo Marco Bin, eu crio coragem. Grande abraço.

      Excluir
  3. Gostei da foto. Nunca soube da existência do lugar rss. Não sou aventureira e lugares despovoados não me atraem porque sempre me preocupo com eventual emergência. É sempre um prazer ler seus escritos. Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Marilene. Pois é, aqui curtimos boas aventuras, sobretudo na área rural. Grande abraço, caríssima.

      Excluir
    2. A fotógrafa é a Bernadete. E, Marilene, você tem razão, ficou bonita mesmo.

      Excluir