Estivemos na então desconhecida Cumuruxatiba, ao sul de Porto Seguro, em março de 1992. Viajamos tão logo confirmada a gravidez da minha companheira, Bernadete, que esperava o nosso querido Raul. Três dias de viagem de São Paulo até lá, num Ford Escort de segunda mão, com duas paradas pelo caminho: em Rio das Ostras/RJ e em Aracruz/ES. Nesta última aproveitamos as boas instalações de um hotel, que compensou o cheiro nauseante da imensa fábrica de celulose que já predominava no local.
Situada no município de Prado/BA, era
apenas uma pequena e modesta colônia de pescadores e agricultores; apenas duas
ou três casas de veraneio. Uns poucos mochileiros se aventuravam por aquelas
paragens, a que se chegava por uma estrada de terra, mais areia do que terra,
atravessando uma precaríssima ponte de madeira, bem rente às águas límpidas de um
riacho. A única pousada era acoplada ao único restaurante da vila, em que
serviam apenas o café da manhã e o almoço. Mas podíamos contar com as saborosas
refeições servidas por uma moradora local, na sua própria casa. E o mais era a
natureza praticamente intacta, à disposição de seis ou oito turistas, incluindo
dois dinamarqueses.
Determinado dia, fomos para a Japara
Grande, lugar de formosas falésias. O simpático Major abriu a porteira da sua
fazenda para que pudéssemos alcançar a praia, seguindo por um caminho arenoso
em meio a uma plantação de mamão papaia. Foi um dia inesquecível. Apenas e tão
somente nós três; ninguém mais. O Major teve a bondade de chamar o Bráz, que gentilmente
abriu o único e precário quiosque para nos servir alguns deliciosos caranguejos.
Sim, claro, recolhidos ali mesmo, na hora.
Foi na Japara Grande que fiz a melhor
pescaria da minha vida: um robalo e quatro bons bagres do mar, conforme
identificados pelo Bráz. Todos de bom tamanho. Pescados na foz daquele riacho
já mencionado. Depois, já na pousada, foi um jantar e tanto: arroz branco,
salada de tomate e cebola, mais os peixes e, para completar, três belas
lagostas fisgadas horas antes pelo cuidador da cozinha, o Zé Mineirinho, também
mergulhador nas horas vagas. Sim, um jantar inesquecível, para seis ou oito
pessoas.
Voltamos para Cumuruxatiba poucos
anos depois, quando o Raul pode, então, aproveitar livremente as delícias do
local. Detalhe interessante: uma camiseta, vendida na pousada, trazia as
inscrições, em letras garrafais: na frente, “CU O QUÊ?”; e atrás,
“CUMURUXATIBA!”. A frisar, na descontração típica dos baianos, que o próprio
nome do local era desconhecido e quase que impronunciável.
Foto: Bernadete P. de Almeida
Maravilha. Passeios assim são o que há de melhor. Há quem prefira ficar confinado em um cruzeiro marítimo, ir à Disney e outros, que abomino igualmente. Cumuruxatiba e afins só para quem tem bom gosto.
ResponderExcluirEsses são alguns passeios que jamais farei. Não, nunca, jamais. Nosso país é riquíssimo em atrações. Abraços, meu irmão.
ExcluirTempo de reunir as crônicas para uma publicação, caro Ezio!
ResponderExcluirQualquer hora, meu caro amigo Marco Bin, eu crio coragem. Grande abraço.
ExcluirGostei da foto. Nunca soube da existência do lugar rss. Não sou aventureira e lugares despovoados não me atraem porque sempre me preocupo com eventual emergência. É sempre um prazer ler seus escritos. Abraço.
ResponderExcluirObrigado, Marilene. Pois é, aqui curtimos boas aventuras, sobretudo na área rural. Grande abraço, caríssima.
ExcluirA fotógrafa é a Bernadete. E, Marilene, você tem razão, ficou bonita mesmo.
Excluir