Joseph Conrad, de origem polonesa e radicado na Inglaterra, escreveu uma
razoável quantidade de bons livros, em sua maioria ambientados no mar, como Lord Jim, A linha de sombra e Tufão. Livros que evocam a vida dos marinheiros, nos
navios fantasmas que enfrentam os mistérios dos mares revoltos.
Conrad também escreveu Coração das Trevas,
ambientado no sudeste asiático; é a história de um comandante que sobe com o
seu barco por um rio do Congo, em busca do comandante Kurtz, entrevado nas
matas junto com os nativos.
É um lindo livro que, depois, veio a inspirar Francis Ford Copolla: foi
com base nele que o diretor cinematográfico filmou o já clássico Apocalipse Now. Neste filme, imperdível,
o cenário é transplantado para o Vietnã, durante a resistência dos asiáticos
contra os norte-americanos; o rio é o Mekong, que desce desde o Tibet e vai até
o litoral vietnamita. Atuações ótimas, apocalípticas, de Martin Sheen, Marlon
Brando, Dennis Hopper e Robert Duvall. Harrison Ford estava presente, mas ainda
com papel secundário. Ao som de “Cavalgada das Valquírias”, vemos as cenas arrepiantes
dos intensos e tenebrosos bombardeios sobre os destemidos e valentes vietcongues.
Coração das Trevas e Apocalipse Now são duas obras que guardam ótima consonância com o
sentido bíblico do termo apocalipse: profecias, revelações, fim dos tempos.
Raul Seixas, nosso mago maluco beleza, foi apocalíptico; previu, na música As profecias, que O mundo se acaba um dia / sem fogo, sem sangue, sem ais / O mundo dos
nossos ancestrais / acaba sem guerras mortais / Sem glórias de mártir ferido /
sem um estrondo, mas com um gemido.
Quando eu era criança, contávamos os anos com apreensão: meus amigos
diziam que o mundo se acabaria antes do ano dois mil. Repetiam, a todo momento,
a terrível expressão que eu não queria ouvir: “mil anos passarão, dois mil não
chegarão”. Afirmavam categoricamente que tudo se consumiria numa imensa bola de
fogo, em contraponto com o dilúvio. Perdi noites de sono com essas histórias; preocupava-me
o fato de que minha vida estava passando muito depressa.
Pois bem! Estamos todos aqui. Firmes e fortes ou capengas e estonteados. Aquelas
profecias não se concretizaram, mas, incrível, no lugar delas aparecem outras, de
vez em quando, de modo que, não sei, tudo pode acontecer nesse vasto mundo,
agredido de todas as formas pelos profetas dos novos tempos. Enfim, enquanto não
chega o momento da destruição final, aproveito para trazer aos amigos um arremedo
da culinária do sudeste asiático: Camarão Tailandês, uma adaptação que eu fiz
de uma receita do Mestre Allan, que vi apenas pela metade em um programa de
televisão. É um prato rústico, ao menos na minha versão: é feito na base do
camarão vermelho, graúdo.
É assim: numa panela ampla e rasa, douro três ou quatro dentes de alho,
amassados; acrescento tiras de pimentão verde, fatias de gengibre e um pouco de
molho de soja. Corrijo o sal e coloco os camarões, previamente marinados em sal
e limão, para uma leve tostada. Finalizando, já com o fogo por desligar, rego a
iguaria com de leite de coco e está pronto.
O arroz branco é um acompanhamento ideal para o Camarão à Tailandesa,
prato simples e de sabor acentuado. Há quem coma as fatias do gengibre; eu
prefiro separá-las no prato, por isso deixo-as visíveis, em rodelas grandes e
finas.
Esse prato, convenhamos, não é o fim do mundo, mas, acredite, vale a pena
degustá-lo.
Apocalipse Now: Obra-prima!!! Excelente lembrança!!!
ResponderExcluirObrigado, mas creio que vale ao menos pela dica culinária. Abraços.
ExcluirExcelentes crônica e receita. Vou conferir. Abraço.
ResponderExcluirObrigado, Wando, é um prato saboroso. Rápido e fácil de ser feito. Abraços.
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