Postagem em destaque

Sobre o Blog

Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Crônica - De camarões e de apocalipse


Joseph Conrad, de origem polonesa e radicado na Inglaterra, escreveu uma razoável quantidade de bons livros, em sua maioria ambientados no mar, como Lord Jim, A linha de sombra e Tufão.  Livros que evocam a vida dos marinheiros, nos navios fantasmas que enfrentam os mistérios dos mares revoltos.
Conrad também escreveu Coração das Trevas, ambientado no sudeste asiático; é a história de um comandante que sobe com o seu barco por um rio do Congo, em busca do comandante Kurtz, entrevado nas matas junto com os nativos.
É um lindo livro que, depois, veio a inspirar Francis Ford Copolla: foi com base nele que o diretor cinematográfico filmou o já clássico Apocalipse Now. Neste filme, imperdível, o cenário é transplantado para o Vietnã, durante a resistência dos asiáticos contra os norte-americanos; o rio é o Mekong, que desce desde o Tibet e vai até o litoral vietnamita. Atuações ótimas, apocalípticas, de Martin Sheen, Marlon Brando, Dennis Hopper e Robert Duvall. Harrison Ford estava presente, mas ainda com papel secundário. Ao som de “Cavalgada das Valquírias”, vemos as cenas arrepiantes dos intensos e tenebrosos bombardeios sobre os destemidos e valentes vietcongues.
Coração das Trevas e Apocalipse Now são duas obras que guardam ótima consonância com o sentido bíblico do termo apocalipse: profecias, revelações, fim dos tempos. Raul Seixas, nosso mago maluco beleza, foi apocalíptico; previu, na música As profecias, que O mundo se acaba um dia / sem fogo, sem sangue, sem ais / O mundo dos nossos ancestrais / acaba sem guerras mortais / Sem glórias de mártir ferido / sem um estrondo, mas com um gemido.
Quando eu era criança, contávamos os anos com apreensão: meus amigos diziam que o mundo se acabaria antes do ano dois mil. Repetiam, a todo momento, a terrível expressão que eu não queria ouvir: “mil anos passarão, dois mil não chegarão”. Afirmavam categoricamente que tudo se consumiria numa imensa bola de fogo, em contraponto com o dilúvio. Perdi noites de sono com essas histórias; preocupava-me o fato de que minha vida estava passando muito depressa.
Pois bem! Estamos todos aqui. Firmes e fortes ou capengas e estonteados. Aquelas profecias não se concretizaram, mas, incrível, no lugar delas aparecem outras, de vez em quando, de modo que, não sei, tudo pode acontecer nesse vasto mundo, agredido de todas as formas pelos profetas dos novos tempos. Enfim, enquanto não chega o momento da destruição final, aproveito para trazer aos amigos um arremedo da culinária do sudeste asiático: Camarão Tailandês, uma adaptação que eu fiz de uma receita do Mestre Allan, que vi apenas pela metade em um programa de televisão. É um prato rústico, ao menos na minha versão: é feito na base do camarão vermelho, graúdo.
É assim: numa panela ampla e rasa, douro três ou quatro dentes de alho, amassados; acrescento tiras de pimentão verde, fatias de gengibre e um pouco de molho de soja. Corrijo o sal e coloco os camarões, previamente marinados em sal e limão, para uma leve tostada. Finalizando, já com o fogo por desligar, rego a iguaria com de leite de coco e está pronto.
O arroz branco é um acompanhamento ideal para o Camarão à Tailandesa, prato simples e de sabor acentuado. Há quem coma as fatias do gengibre; eu prefiro separá-las no prato, por isso deixo-as visíveis, em rodelas grandes e finas.
Esse prato, convenhamos, não é o fim do mundo, mas, acredite, vale a pena degustá-lo.









4 comentários:

  1. Apocalipse Now: Obra-prima!!! Excelente lembrança!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, mas creio que vale ao menos pela dica culinária. Abraços.

      Excluir
  2. Excelentes crônica e receita. Vou conferir. Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Wando, é um prato saboroso. Rápido e fácil de ser feito. Abraços.

      Excluir