Muros não fizeram parte
da minha infância; me lembro do nosso quintal quase todo cercado com três fios
de arame. Num ou noutro trecho havia bambus entrelaçados; às vezes, de espaço
em espaço, algumas ripas. Era o que dava para ter.
Seu Luís foi um dos nossos vizinhos, durante muitos anos. Entre o nosso terreno e o dele sobrava uma pequena faixa de terra, sem dono e sem ocupante. Meu pai e o Seu Luís nunca chegaram a um acordo sobre quem seria o proprietário dela; nenhum dos dois se achava dono do pedaço e nem queria para si aquela sobra de terreno.
Ambos fizeram e refizeram
suas medições e cada um encontrou seus limites, remanescendo a dita cuja. Não é
minha, é sua, minha é que não é, fique com ela e tal, enfim, a criançada
resolveu a questão e tomou posse do local. Eu, meus irmãos e os netos do Seu
Luís encontramos o espaço ideal para brincar; passamos ali excelentes, em
perfeita harmonia e sob o testemunho de uma velha mamoneira.
Só fui me dar conta dos
muros quando já caminhava para adolescência, e de um jeito moleque. Numa época
em que não se usavam lixeiras, os muros serviam de apoio para as latas do lixo
doméstico; claro, minha diversão, na volta do colégio, era derrubá-las para
dentro dos quintais.
Eu e um grande amigo de
então; formávamos excelente dupla, um peixe e um peixinho. Duas ou três vezes
por semana, variando as ruas e alternando as casas, derrubando latas e correndo.
Poucas donas de casas ficaram livres da nossa arte; mais alto o muro, maior o
barulho.
Com o passar do tempo e já
na mocidade, ampliando os horizontes, vim a saber da existência de outros muros.
E encontrei, é certo, especial dificuldade para entender o de Berlim; custei a
entender a lógica de uma cidade dividida em duas partes.
Já em relação à Faixa de
Gaza, essa eu acho que nunca vou entender e nem aceitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário