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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

sábado, 17 de outubro de 2020

Crônica - Muros

 

Muros não fizeram parte da minha infância; me lembro do nosso quintal quase todo cercado com três fios de arame. Num ou noutro trecho havia bambus entrelaçados; às vezes, de espaço em espaço, algumas ripas. Era o que dava para ter.

Seu Luís foi um dos nossos vizinhos, durante muitos anos. Entre o nosso terreno e o dele sobrava uma pequena faixa de terra, sem dono e sem ocupante. Meu pai e o Seu Luís nunca chegaram a um acordo sobre quem seria o proprietário dela; nenhum dos dois se achava dono do pedaço e nem queria para si aquela sobra de terreno.

Ambos fizeram e refizeram suas medições e cada um encontrou seus limites, remanescendo a dita cuja. Não é minha, é sua, minha é que não é, fique com ela e tal, enfim, a criançada resolveu a questão e tomou posse do local. Eu, meus irmãos e os netos do Seu Luís encontramos o espaço ideal para brincar; passamos ali excelentes, em perfeita harmonia e sob o testemunho de uma velha mamoneira.

Só fui me dar conta dos muros quando já caminhava para adolescência, e de um jeito moleque. Numa época em que não se usavam lixeiras, os muros serviam de apoio para as latas do lixo doméstico; claro, minha diversão, na volta do colégio, era derrubá-las para dentro dos quintais.

Eu e um grande amigo de então; formávamos excelente dupla, um peixe e um peixinho. Duas ou três vezes por semana, variando as ruas e alternando as casas, derrubando latas e correndo. Poucas donas de casas ficaram livres da nossa arte; mais alto o muro, maior o barulho.

Com o passar do tempo e já na mocidade, ampliando os horizontes, vim a saber da existência de outros muros. E encontrei, é certo, especial dificuldade para entender o de Berlim; custei a entender a lógica de uma cidade dividida em duas partes.

Já em relação à Faixa de Gaza, essa eu acho que nunca vou entender e nem aceitar.


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