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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Crônica - Palhaços

Na voz de Teixeirinha (O Mundo do Circo): Hoje tem marmelada? Tem sim Senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim Senhor! E o Palhaço o que é? É ladrão de mulher! Na voz de Zé Kéti (Máscara Negra): Tanto riso, tanta alegria, mais de mil palhaços no salão, Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão.

Cantado por Nelson Gonçalves (Chão de Estrelas): Palhaço das perdidas ilusões, cheio dos guizos falsos, das alegrias. Cantado por Miltinho e Elza Soares (Palhaçada): Cara de Palhaço, pinta de Palhaço, roupa de Palhaço, Palhaço até o fim.

Nos versos de Chico Buarque (A Valsa dos Clowns): Em toda canção o Palhaço é um charlatão, esparrama tanta gargalhada da boca pra fora; dizem que o seu coração pintado toda tarde de domingo chora. Eis o Velho Palhaço, Seu Chacrinha, Aquele abraço de Gilberto Gil.

No cinema, Selton Mello e Paulo José encarnaram o Palhaço em um filme memorável – e triste; Joaquim Phoenix deu um colorido mórbido ao Coringa. No circo mambembe, nas ruas de Gotham City, eis o Palhaço.

No começo dos anos 1980, vi uma apresentação impecável de Egberto Gismonti, no TUCA, em São Paulo. Solícito, conversou com a plateia e atendeu vários pedidos, numa empatia total. E fez cara (premeditada, evidente) de espanto, quando gritamos: Palhaço... Palhaço...  E então nos brindou com os deliciosos acordes da melancólica Palhaço.

Foi o ápice da noite. Ensimesmado e como se absorvido pela tristeza, Egberto se transformou em cada nota tirada das profundezas do seu ser. Poucas vezes o silêncio numa casa de espetáculos foi tão absoluto como daquela vez; apenas o som dos teclados magistralmente executados por mãos virtuosas.

Há quem diga que o Palhaço é, no grande circo, apenas o ladrão do coração de uma mulher. O mundo sempre foi um circo sem igual, onde uns representam bem ou mal, onde a farsa de um Palhaço é natural – assim cantava Vanusa.

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