Não vi a seleção húngara de futebol,
de 1958, jogar. Dizem que era uma excelente esquadra, que merecia o título
mundial; entretanto, Puskas e seus companheiros foram inesperadamente
derrotados pelos alemães; a poderosa equipe húngara amargou o segundo lugar na
competição, para espanto de todos.
A seleção da Holanda, de 1974, essa
eu vi: Cruyff, Neeskens e Rensenbrink encantaram o mundo. A Laranja Mecânica,
sob o comando de Rinus Michels, não levou o título que tanto merecia: mais uma
vez, os alemães trataram de mudar os rumos da história e fizeram o Carrossel Holandês
curtir uma injusta segunda colocação
E o que dizer da seleção brasileira do
Doutor Sócrates, de Zico, Júnior, Eder Aleixo, Falcão e Toninho Cerezo? Estes maestros
da bola, que encantavam o mundo, tiveram que lamentar uma eliminação precoce, numa
tarde de julho de 1982. Não há como esquecer aquilo; foi de uma tristeza doída,
profunda, imerecida.
Joãosinho Trinta, em 1989, levou a
sua criatividade ao extremo: botou a Beija-Flor na avenida com o tema Ratos
e Urubus larguem a minha fantasia. Para desespero do conservadorismo
vigente. Um Cristo que viria coberto de farrapos foi censurado, minutos antes,
e teve que entrar na avenida escondido sob um pano preto. Em protesto, o
carnavalesco exibiu uma faixa com a enigmática frase: Mesmo proibido, olhai
por nós! Naquele ano, Joãosinho teve que se contentar com o vice-campeonato.
No Festival da Canção da Globo, de
1985, Míriam Miráh encantou o país com a linda e brava Mira Ira, um
grito de brasilidade composto por Lula Barbosa e Wanderley de Castro. Na apresentação
final, a estrela da canção latino-americana, de voz possante e ao mesmo tempo melódica,
levantou o Maracanãzinho, que cantou junto com ela: Mira vento, sopra
continente / Nossa América servil ... / Verso frágil tecido em fuzil / Mescla
morena / Canela, cachaça, bela raça, Brasil. Não há como não se emocionar com
tamanha poesia. Não há como não lamentar a decisão do júri, que lhe concedeu apenas
o segundo lugar.
Um dos filmes que me marcaram para
sempre foi Apocalypse Now, de Francis Copolla. É a síntese do inferno
que foi o Vietnã, sob o inclemente bombardeio norte-americano. Martin Sheen, Robert
Duvall, Dennis Hopper e Marlon Brando estão impecáveis e perfeitamente
encaixados na loucura do diretor. Sob a Cavalgada das Valquírias, as pás do
ventilador de teto se fundem na imagem e no som das hélices dos helicópteros:
um filme que merecia muito o Oscar que, enfim, ficou com o melodramático enredo
familiar de Kramer x Kramer. Inexplicável.
Juca Kfouri sabiamente diz: Zico,
Sócrates, Falcão e Eder não ganharam a Copa do Mundo? Ora, azar da Copa do
Mundo! Pois é: azar do Oscar; azar do Festival da Globo, ora!
Lembranças ficam gravadas, independente de se referirem a alegrias ou a tristezas. Uma bela caminhada, a sua. Confesso que não sou fanática por futebol, comemoro as vitórias e não me prendo às derrotas. Já a música, essa sim, merece aplausos. Infelizmente, quem escolhe os "melhores" são seres humanos e, como nós, erram. Abraço!
ResponderExcluirÉ nessas caminhadas que vamos colhendo as emoções vividas, as belezas encontradas. Teimo em colecionar gostosas memórias, sons, imagens, cheiros, tatos. Enquanto não se apagam, vamos compartilhando. Grande abraço, querida amiga e poeta.
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