Postagem em destaque

Sobre o Blog

Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 31 de maio de 2020

Crônica - E o Oscar vai para ...

Não vi a seleção húngara de futebol, de 1958, jogar. Dizem que era uma excelente esquadra, que merecia o título mundial; entretanto, Puskas e seus companheiros foram inesperadamente derrotados pelos alemães; a poderosa equipe húngara amargou o segundo lugar na competição, para espanto de todos.

A seleção da Holanda, de 1974, essa eu vi: Cruyff, Neeskens e Rensenbrink encantaram o mundo. A Laranja Mecânica, sob o comando de Rinus Michels, não levou o título que tanto merecia: mais uma vez, os alemães trataram de mudar os rumos da história e fizeram o Carrossel Holandês curtir uma injusta segunda colocação
E o que dizer da seleção brasileira do Doutor Sócrates, de Zico, Júnior, Eder Aleixo, Falcão e Toninho Cerezo? Estes maestros da bola, que encantavam o mundo, tiveram que lamentar uma eliminação precoce, numa tarde de julho de 1982. Não há como esquecer aquilo; foi de uma tristeza doída, profunda, imerecida.
Joãosinho Trinta, em 1989, levou a sua criatividade ao extremo: botou a Beija-Flor na avenida com o tema Ratos e Urubus larguem a minha fantasia. Para desespero do conservadorismo vigente. Um Cristo que viria coberto de farrapos foi censurado, minutos antes, e teve que entrar na avenida escondido sob um pano preto. Em protesto, o carnavalesco exibiu uma faixa com a enigmática frase: Mesmo proibido, olhai por nós! Naquele ano, Joãosinho teve que se contentar com o vice-campeonato.
No Festival da Canção da Globo, de 1985, Míriam Miráh encantou o país com a linda e brava Mira Ira, um grito de brasilidade composto por Lula Barbosa e Wanderley de Castro. Na apresentação final, a estrela da canção latino-americana, de voz possante e ao mesmo tempo melódica, levantou o Maracanãzinho, que cantou junto com ela: Mira vento, sopra continente / Nossa América servil ... / Verso frágil tecido em fuzil / Mescla morena / Canela, cachaça, bela raça, Brasil. Não há como não se emocionar com tamanha poesia. Não há como não lamentar a decisão do júri, que lhe concedeu apenas o segundo lugar.
Um dos filmes que me marcaram para sempre foi Apocalypse Now, de Francis Copolla. É a síntese do inferno que foi o Vietnã, sob o inclemente bombardeio norte-americano. Martin Sheen, Robert Duvall, Dennis Hopper e Marlon Brando estão impecáveis e perfeitamente encaixados na loucura do diretor. Sob a Cavalgada das Valquírias, as pás do ventilador de teto se fundem na imagem e no som das hélices dos helicópteros: um filme que merecia muito o Oscar que, enfim, ficou com o melodramático enredo familiar de Kramer x Kramer. Inexplicável.
Juca Kfouri sabiamente diz: Zico, Sócrates, Falcão e Eder não ganharam a Copa do Mundo? Ora, azar da Copa do Mundo! Pois é: azar do Oscar; azar do Festival da Globo, ora!

2 comentários:

  1. Lembranças ficam gravadas, independente de se referirem a alegrias ou a tristezas. Uma bela caminhada, a sua. Confesso que não sou fanática por futebol, comemoro as vitórias e não me prendo às derrotas. Já a música, essa sim, merece aplausos. Infelizmente, quem escolhe os "melhores" são seres humanos e, como nós, erram. Abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É nessas caminhadas que vamos colhendo as emoções vividas, as belezas encontradas. Teimo em colecionar gostosas memórias, sons, imagens, cheiros, tatos. Enquanto não se apagam, vamos compartilhando. Grande abraço, querida amiga e poeta.

      Excluir