Plácido
casou-se já com idade um pouco mais avançada, tomando uma jovem e bela mulher
como esposa. Talvez até mais por interesse, eis que ela herdara uma quinta,
famosa pela boa produção de uvas viníferas. Apolônia era o nome dela.
O marido em
questão era praticante inveterado das artes enxadrísticas; na juventude, sonhou
com altos feitos nos tabuleiros, previu fama e glória, que não vieram. Ainda estudava
partidas, treinava aberturas, desenvolvia estratégias de jogo, em busca da
perfeição que nunca chegava. Não perdia uma reunião sequer, no casarão do
xadrez. Ali estava todos os sábados, todos os domingos, invariavelmente.
Afora a
compulsão pelo xadrez, Plácido levava uma vida comum, tranquila e até certo
ponto contemplativa. Passava os dias gerenciando as atividades da quinta, dando
especial atenção à produção de vinhos. Suas noites eram dedicadas ao xadrez:
fazia anotações, refazia movimentos das peças, jogava contra si próprio, até
altas horas, sem incomodar ninguém. Mas tinha um defeito: não tolerava derrotas
no tabuleiro. Quando perdia, ficava contrariado e procurava, a todo custo, uma
revanche, uma oportunidade de refazer o ego. Era insistente com os adversários,
praticamente exigia uma nova chance e não sossegava enquanto não conseguia dar
o troco; tinha que, a todo custo, derrotar quem o derrotara, isso era sagrado
para ele.
Reggy, que
reinava absoluto no salão e era o melhor de todos os jogadores que ali se
apresentavam, executou um plano maquiavélico: ganhava a primeira partida de
Plácido e em seguida pedia licença para se ausentar, prometendo retorno para a
revanche. E, de fato, voltava, horas depois, para jogar uma segunda partida,
quando, então, e de propósito, perdia. Pronto! Era a redenção de Plácido!
Isso virou
rotina: Reggy chegava ao casarão, ganhava uma partida de Plácido, pedia ao
amuado adversário para aguardá-lo para a revanche, trocava de roupa e
desaparecia pelos fundos do casarão; retornava duas ou três horas depois,
repunha a roupa elegante e perdia a revanche ansiosamente aguardada pelo rival –
que o esperava quanto tempo fosse necessário.
Plácido
jamais se deu conta das circunstâncias; se no grupo havia alguém que
desconfiasse da situação, esse alguém nunca fez qualquer comentário sobre isso.
Era um grupo que se dedicava cegamente ao xadrez, todos discretos em seus
elegantes trajes e finos gestos. Todos jogavam e cachimbavam nos sábados e
domingos, placidamente...
Mui amigo
ResponderExcluirVeja você, Tadeu, como são as coisas,né? Abração, meu querido amigo. Saúde e paz para todos nós.
ResponderExcluirBelo jogo!! rsss.
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