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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

domingo, 22 de março de 2020

Conto - Em branco e preto, 2a. parte

Ao abrigo do escuro e do disfarce eficiente, nosso Reggy se esgueirava, resoluto e firme, pelas calçadas até à casa da amante, Apolônia. Ali, a sós, ambos se deleitavam a mais não poder. Um homem de meia idade e uma mulher jovem, inquieta e cheia de vida, de apetites insaciáveis.

Apolônia morava num sobrado antigo, em uma quinta que a família lhe deixou. No fundo da herdade, havia uma edícula bem estruturada, com acomodações suficientes para os encarregados dos serviços gerais; ao lado da edícula, um paiol de tábuas, para o feno e rações, garagens para o carros do marido – sim, ela era casada! – e um estábulo para quatro lindos cavalos, dois brancos e dois escuros, todos de pelos reluzentes e cuidadosamente escovados pelo cocheiro da família. Tudo isso envolto por extensos parreirais, de uvas brancas e rosadas para a produção de vinhos.
Os idílios amorosos ocorriam em variados cantos da propriedade: Apolônia recebia seu consorte no luxo do quarto de hóspedes, bem ao lado do quarto do casal. Por vezes não passavam da sala de estar, nas tardes de maior volúpia. Em outras ocasiões, saciavam-se na edícula ou sob as parreiras, e – suprema aventura! – até no estábulo, onde contavam com a tranquilidade dos cavalos, já acostumados aos gemidos e sussurros dos amantes.
Apolônia era uma mulher bonita, de corpo bem feito e atraente, casada há alguns anos. Uma verdadeira dama na sociedade, respeitada por todos pelo comportamento sóbrio. Jamais foi vista em lugares públicos a não ser junto com o marido. Mulher jovem que, entretanto, detestava a monotonia da vida, quebrando-a mesmo que sob certos riscos.
Não que desgostasse do marido. Pelo contrário, até que se davam bem, mas os desejos de aventura e o sabor da traição lhe falavam mais alto. Os encontros com Reggy lhe soavam como um jogo, pois tinha plena consciência da delicadeza da sua situação: se o marido soubesse, seria escândalo na certa. Ficaria marcada para sempre na sociedade conservadora, por certo até abandonada por todos.
Apolônia e Reggy se conheceram como que por acaso, num evento social, e a atração mútua foi rápida. Foi ela quem tomou a iniciativa naquele jogo, convidando-o à sua casa, nas tardes em que ficava sozinha – o seu marido, entusiasta do xadrez, jogava todos os sábados, todos os domingos, invariavelmente!

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