Tempo, tempo, tempo
Quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido
(Caetano Veloso)
Deu-se na chegada da hora inconteste
Enxergava jazendo emudecido
Espreitando calado o vento leste
Porém tudo escutando comovido.
Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...
Tempo, tempo, tempo
Quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido
(Caetano Veloso)
Deu-se na chegada da hora inconteste
Enxergava jazendo emudecido
Espreitando calado o vento leste
Porém tudo escutando comovido.
As imagens vão se sucedendo, nítidas, a uma velocidade uniforme de vinte e quatro quadros por segundo. Não há uniformidade no desenrolar dos diversos planos, como que numa montagem aleatória, despreocupada com começo, meio e fim. Tudo transcorre no amplo cenário que se vislumbra entre Apiaí, Iporanga e Eldorado.
Quando tudo parecia caminhar para um destino trágico, eis que Volta Seca veio a despontar para um relativo sucesso na seara musical. Nascido em Saco Torto, no agreste sergipano, em 1918, entrou para o grupo de Lampião aos dez anos de idade. Levou ao líder, colado no sovaco, um franguinho como mimo. Implorou o mais que pode para, enfim, ser aceito como ajudante de limpeza nos acampamentos. Vez ou outra também fazia tocaia.
Quando ele nasceu um Anjo lhe disse:
Vai, cara, vai ser um merda na vida!
Foi desse jeito mesmo, como se dissesse por
gabolice.
Foi assim, de mau agouro, que o cara entrou na vida
sofrida.
Numa das travessias de balsa que fiz pelo Buranhém, de Arraial D’Ajuda para Porto Seguro, experimentei sublime paz de espírito em elevada contemplação do nada. Absorto e desgarrado do mundo, assim fiquei naqueles instantes, entre um cais e outro. Um marujo, deitado na proa e olhando para o infinito azul celeste, assoviava, hábil, Capim Guiné, gravada por Raul Seixas. O assovio que se sobrepunha ao ronco dos motores e me erguia em êxtase inexplicável. Escutava apenas a música e nada mais. Mirando as águas calmas do caudaloso rio, vivi na ocasião um mágico entardecer.
Das mesas em frente aos bares da Passarela do Álcool, em Porto Seguro, se avista um lindo mar esverdeado, em cujas águas calmas o olhar de quem o contempla navega livremente, até aos mais distantes limites que o imaginário pode alcançar. É um cenário perfeito para um gostoso fim de tarde de verão. O corpo queimado, com vestígios do sal das praias do Arraial D’Ajuda, a travessia de balsa pelo Buranhém. Um prato de lambretas ao molho vinagrete, uma cerveja gelada e a imaginação correndo solta, tudo na mais pura solidão em meio a hippies e descolados de todas as línguas.
Tardes de inverno inesquecíveis são as que passei com o Vô Zé Pedro, na Grotinha, bairro da zona rural de Estiva/MG. Aos sábados, depois de um cochilo rápido do pós-almoço, lá ia eu caminhando ao pé das cordilheiras que, uma de cada lado, guardam a estradinha de terra batida que leva até a casa. Duas altas e imponentes cordilheiras que por ali vão se fechando, pouco a pouco, até formarem o vértice de um triângulo. Bonito caminho, aquele. Retardava o passo só para apreciar a paisagem. De baixo para cima, até onde a vista alcançava.
Estivemos na então desconhecida Cumuruxatiba, ao sul de Porto Seguro, em março de 1992. Viajamos tão logo confirmada a gravidez da minha companheira, Bernadete, que esperava o nosso querido Raul. Três dias de viagem de São Paulo até lá, num Ford Escort de segunda mão, com duas paradas pelo caminho: em Rio das Ostras/RJ e em Aracruz/ES. Nesta última aproveitamos as boas instalações de um hotel, que compensou o cheiro nauseante da imensa fábrica de celulose que já predominava no local.