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Despretensiosos e singelos: é assim que vejo minhas crônicas e meus contos. As crônicas retratam pedaços da minha vida; ora são partes da ...

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Poesia - Hora chegada

                                                                          

Tempo, tempo, tempo

Quando eu tiver saído

 Para fora do teu círculo

 Não serei nem terás sido

(Caetano Veloso)




Deu-se na chegada da hora inconteste

Enxergava jazendo emudecido

Espreitando calado o vento leste

Porém tudo escutando comovido.

 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Crônica - Projeções

 

As imagens vão se sucedendo, nítidas, a uma velocidade uniforme de vinte e quatro quadros por segundo. Não há uniformidade no desenrolar dos diversos planos, como que numa montagem aleatória, despreocupada com começo, meio e fim. Tudo transcorre no amplo cenário que se vislumbra entre Apiaí, Iporanga e Eldorado.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Crônica - Volta Seca

 

Quando tudo parecia caminhar para um destino trágico, eis que Volta Seca veio a despontar para um relativo sucesso na seara musical. Nascido em Saco Torto, no agreste sergipano, em 1918, entrou para o grupo de Lampião aos dez anos de idade. Levou ao líder, colado no sovaco, um franguinho como mimo. Implorou o mais que pode para, enfim, ser aceito como ajudante de limpeza nos acampamentos. Vez ou outra também fazia tocaia.

domingo, 1 de junho de 2025

Poesia - O Anjo do Destino

 

Quando ele nasceu um Anjo lhe disse:

Vai, cara, vai ser um merda na vida!

Foi desse jeito mesmo, como se dissesse por gabolice.

Foi assim, de mau agouro, que o cara entrou na vida sofrida.

 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Crônica - Capim Guiné

 

Numa das travessias de balsa que fiz pelo Buranhém, de Arraial D’Ajuda para Porto Seguro, experimentei sublime paz de espírito em elevada contemplação do nada. Absorto e desgarrado do mundo, assim fiquei naqueles instantes, entre um cais e outro. Um marujo, deitado na proa e olhando para o infinito azul celeste, assoviava, hábil, Capim Guiné, gravada por Raul Seixas. O assovio que se sobrepunha ao ronco dos motores e me erguia em êxtase inexplicável. Escutava apenas a música e nada mais. Mirando as águas calmas do caudaloso rio, vivi na ocasião um mágico entardecer.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Crônica - 25 de abril

 

Das mesas em frente aos bares da Passarela do Álcool, em Porto Seguro, se avista um lindo mar esverdeado, em cujas águas calmas o olhar de quem o contempla navega livremente, até aos mais distantes limites que o imaginário pode alcançar. É um cenário perfeito para um gostoso fim de tarde de verão. O corpo queimado, com vestígios do sal das praias do Arraial D’Ajuda, a travessia de balsa pelo Buranhém. Um prato de lambretas ao molho vinagrete, uma cerveja gelada e a imaginação correndo solta, tudo na mais pura solidão em meio a hippies e descolados de todas as línguas.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Crônica - Tardes de inverno

 

Tardes de inverno inesquecíveis são as que passei com o Vô Zé Pedro, na Grotinha, bairro da zona rural de Estiva/MG. Aos sábados, depois de um cochilo rápido do pós-almoço, lá ia eu caminhando ao pé das cordilheiras que, uma de cada lado, guardam a estradinha de terra batida que leva até a casa. Duas altas e imponentes cordilheiras que por ali vão se fechando, pouco a pouco, até formarem o vértice de um triângulo. Bonito caminho, aquele. Retardava o passo só para apreciar a paisagem. De baixo para cima, até onde a vista alcançava.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Crônica - Cumuruxatiba

 

Estivemos na então desconhecida Cumuruxatiba, ao sul de Porto Seguro, em março de 1992. Viajamos tão logo confirmada a gravidez da minha companheira, Bernadete, que esperava o nosso querido Raul. Três dias de viagem de São Paulo até lá, num Ford Escort de segunda mão, com duas paradas pelo caminho: em Rio das Ostras/RJ e em Aracruz/ES. Nesta última aproveitamos as boas instalações de um hotel, que compensou o cheiro nauseante da imensa fábrica de celulose que já predominava no local.